Maurício Segall nasceu em Berlim, Alemanha, em 1926. Filho do pintor Lasar Segall, veio com a sua família morar em São Paulo, com apenas 2 meses. Além de poeta, foi museólogo, administrador e dramaturgo. Escreveu artigos sobre política e política cultural, museologia, racismo e administração, entre outros temas. Boa parte deles é reunido no livro Controvérsias e Dissonâncias, lançado em 2001. Publica também três livros de poesia: Máscaras ou Aprendiz de Feiticeiro (2000); Dos Bastidores à Ribalta (2002); e Poesia ao Acaso (2005). Foi casado com a atriz Beatriz Segall. Faleceu em São Paulo, em 2017.

FUNDEADOURO

Álbuns que preservam
conhecidos portos
abrigam memória

ancore o veleiro
em nascente poita
no antigo porto

COLCHÃO

Estou a prumo
vislumbro o musgo
na rocha fêmea
terra

no lusco-fusco
repouso meu corpo
neste coxim
pedra

TÉDIO

nada é tudo
tudo é médio
chegar é nada
o tempo é lesma

o sol do meio-dia
é cinza

a lua da meia-noite
é nova

e o fastio não desaparece

na penumbra
não distingo tonalidades

não há espaço para poesia

PELADA

A vida pode ser insípida
mas existem redondas
com curvas e fofuras
que marcam gols
de testa
de coração
de bicicleta

mas, cautela
bola na trave
é infesta

RUA SEM SAÍDA

Estou perdido
num beco
que não é avenida

os cotovelos esfolam-se
nas paredes
que são muros

perdi meu celular
não encontro botões
de campainha

anoitece
não há lampiões
para iluminar minha viela

*Poemas do livro “Dos Bastidores À Ribalta”, Editora Iluminuras, 2002.