Não te esqueças de mim, quando erradia
perde-se a lua no sidéreo manto;
quando a brisa estival roçar-te a fronte,
não te esqueças de mim, que te amo tanto.
Não te esqueças de mim, quando escutares
gemer a rola na floresta escura,
e a saudosa viola do tropeiro
desfazer-se em gemido de tristura.
Quando a flor do sertão, aberta a medo,
pejar os ermos de suave encanto,
lembre-te os dias que passei contigo,
não te esqueças de mim, que te amo tanto.
Não te esqueças de mim, quando à tardinha
se cobrirem de névoa as serranias,
e na torre alvejante o sacro bronze
docemente soar nas freguesias!
Quando de noite, nos serões de inverno,
a voz soltares modulando um canto,
lembre-te os versos que inspiraste ao bardo,
não te esqueças de mim, que te amo tanto.
Não te esqueças de mim, quando meus olhos
do sudário no gelo se apagarem,
quando as roxas perpétuas do finado
junto à cruz de meu leito se embalarem.
Quando os anos de dor passado houverem,
e o frio tempo consumir-te o pranto,
guarda ainda uma idéia a teu poeta,
não te esqueças de mim, que te amo tanto.