Talvez o universo não exista.
Seja apenas a sombra fugitiva
da idéia de um universo; ou talvez
seja a perdida infância, o clarão
de alguma inteligência subitânea.
Sim, talvez não exista.Seja um medo
de haver mais testemunhos, relações
afetos exteriores ou temidos,
ou mero espectador de algum incêndio
havido e não sabido ou antecipado
para que reste cinza, cinza e vão.

Ou nada reste de um sistema,
uma harmonia cósmica, o pavor
de alguém nos assistir, estando ausente.
Não existe universo, nem o dia
ou a noite.Nós inventamos tudo,
inventamos a nós mesmos
e esquecemos a fórmula, o entrecho,
inventando o esquecimento.

Ou é invenção o pensamento,
uma argúcia engedrada pelos deuses
de se engedrarem juntos, nos pensando.
Ou o universo seja apenas quando
cessarmos de existir, desentocando
o mistério maior, aquele plasma
que rege a potestade, ou forma insone
de se viver, morrido, com o corpo
exilado num outro. O universo
se compõe, se dormimos.Ele existe.
Sobrevive tangível quando amamos
ou tontos despertamos. O universo
perturba, ferve nos corrói. E assoma.
Continuará depois que sepultarmos
essa comunicação, toda a vontade
e a matéria restrita ou desatenta.

E talvez o universo nos inventa.