Age de Carvalho nasceu em Belém, Pará, em 1958. Poeta, tradutor e designer gráfico, vive desde 1986 entre Viena, na Áustria e Munique, na Alemanha, trabalhando para diversas revistas destes países. Por conta disso, sua obra apresenta traços do estrangeirismo, no qual expressa traços por meio do sentimentos de não pertencimento e deslocamento no contato com a língua e com a cultura alemã.
Orides
Te cobrias
com as duras leis
(Kant relido)
e o manto nenhum
do Buda,
tua veste ácida de luz,
tua tigela de monge
vazia,
o esplendor da pobreza
e
o céu todo estrelado
dentro de ti.
ANTES DE BATER
a porta, o Ano ainda refocila e rosna,
a bocarra escancarada:
és o penúltimo,
vem,
deixa o esfumado veludo do luto
no manto caído
a caminho,
entre votos e fogos queremos
enfim (o Fim)
festejar.
Uns
Eu em-ti,
a sós, ego
meu em turbulento
sossego –
quando mirar-te
era logo poder
me olhar melhor, lago
e desejei que fôssemos inseparáveis.
Neste quarto,
Operngasse 26, uns
corpos somos
a imagem do mundo:
nós, nus.
ENTRE DOIS SILÊNCIOS, inter-
calados por vegetais
translúcidos crescendo à sombra dos astros,
em par, a-com, chegávamos
à cabana:
era
nossa missa, ascensão e acesso
à beira de nós,
o mesmo céu inédito, de-novo, tateado
no escuro hipercurvo,
era
a surpresa, tri-exclamada, supra.
Ali, abraçados.
Mantas de estrelas.
O céu daqui de cima
Uma únicas estrela a olho nu,
tu, deitada na noite
do avião,
o skype ligado,
atravessando o céu solitário
do teu aniversário.
Teu, teu, teu
O tempo se expande
atrás de ti,
teus mortos nossos ossos
desaparecem sem data, dia, d
na distância, em-névoa.
Teu passado, agora:
escorado na mangueira
toda sonho – de pé,
maior
que teu futuro,
supermundo,
essa sombra se alongando
às tuas costas.
*Poemas do livro “De-estar, entrestrelas”, Editora Cobalto, 2025.