Então queres os meus versos?
Pois bem, eu lhe dou,
mas sob uma condição:
prometer levar sempre
contigo tudo aquilo que entrego
na mais ávida palavra que sinto
no momento da inspiração.

Sim, de tudo:
da minha alma aberta de medo
ao sangue pisado do tempo;
Dos prantos de secreta ebulição
à carne rompida de chagas;
do âmago da vil devoção,
às tristezas repletas de nada;
da melancolia eterna de ser
e a certeza da incompreensão,
às vísceras de tanto sofrer
as perdas de cada perdão.

Não esqueça também
das vezes que tentei me matar
e as tantas que achei que morreria;
Do prélio final da memória
às luzes de sombras esquecidas,
sorvida no corpo sem gosto
correndo nas veias dos outros
as seivas perdidas na vida.

E verás, como se assim pudesse,
a reação vingada por seus versos
pungindo no coração de alguém
que um dia, assim como fizestes,
dirá, com certo desdém,
que as suas palavras qualquer um escreveria.

Aí sim, só assim, quando levares de fato
tudo aquilo que tenho,
saberemos o peso dos rastros,
suando febril o veneno
na sua verdade de plástico.

Poderás bradar triunfante
o teu direito de posse
dizendo-se o “Poeta dos versos”
a um eco de aplausos tão fortes
que sentirás o prazer genial
de ter uma obra autoral
com seu nome por cima do meu.

(Mesmo que só você saiba
o quanto não sabe de nada
sobre cada palavra assinada
que nunca lhe pertenceu…)

Ah, Dono fiel dos meus versos,
Faça-me esse favor…
Deixe-me vazio e mais Leve.
Vai, Leve, Leve-me,
Tira-me desse jazigo
que carrego nos ombros da verve!