Se eu de ti me esquecer, nem mais um riso
Possão meus tristes labios desprender;
Para sempre absondone-me a esperança,
Se eu de ti me esquecer.

Neguem-me auras o ar, neguem-me os bosques
Sombra amiga, em que possa adormecer,
Não tenhão para mim murmúrio as agoas,
Se eu de ti me esquecer.

Em minhas mãos em aspide se mude
No mesmo instante a flôr, que eu for colher;
Em fel a fonte, a que chegar meus labios,
Se eu de ti me esquecer.

Em meu peregrinar jamais encontre
Pobre albergue, onde possa me acolher;
De plaga em plaga, foragido vague,
Se eu de ti me esquecer.

Qual sombra de prescito entre os viventes
Passe os miseros dias a gemer,
E em miseros dias a gemer,
E em meus martyrios me escarneça o mundo,
Se eu de ti me esquecer.

Se eu de ti me esquecer, nem uma lagrima
Caia sobre o sepulchro, em que eu jazer;
Por todos esquecido viva e morra,
Se eu de ti me esquecer.