Walmor Marcellino nasceu em Araranguá, Santa Catarina, no dia 4 de fevereiro de 1930. Poeta, jornalista e militante político, foi cassado pela ditadura militar e perdeu seu emprego de funcionário público na Assembleia Legislativa do Paraná, em 1964. Além de uma vasta produção literária, produziu e dirigiu peças de teatro criticamente ácidas e manifestações políticas em diversos espaços na cidade de Curitiba. Faleceu no dia 25 de setembro de 2009, em Curitiba, Paraná.
Intempestivo
Obumbrado pelo trovão
deslumbrado de corisco
ofuscado por relâmpago
entontecido nas iluminuras.
Colhido fora do aprisco
no evento do âmago
desprotegido solitário
sob árvores nas alturas
foi queimado pelo raio;
levado pelo rabecão.
A morte caiu do céu
sim ou não?
Testemunho
Mão estendida
de palma aberta,
só um atilho limita
a agulha esperta.
Rastilho de aventura
no sótão da casa
por baixo da máscara.
É preciso viajar
pra conhecer esse mundo doido,
gira perdido o espaço.
Sua overdose inscrita
de mente aberta;
sua AIDS desforra
mas encoberta,
sua tubércula inserta;
por atenção das coisas
que a sonolência multiplica
nossa inconexa.
Indeléveis
esses ensejos desgostos
os desejos revoltos
sua pátria perdida.
Nominação em plantas
Ânsias de beber no poema
palavra vã, ronda espera,
estou cercado sob plátanos vazios.
– Quais palavras são plátanos ou glicínias?
Sei de mim o quanto sei apenas
menoscabo menostenso menosfalso
sempre à deriva do porto que procuro
quando a neblina umedece os frutos.
Sei de mim onde termina o corpo
começa a náusea;
de outro corpo que no meu começa
à beira dos rios
e o amor aprisiona
– Alguns arbustos nos protegem?
Sei de mim, do amor que construo
aprendendo o amor
do homem e tantas
plantas com seus nomes.
Frieza e tremor
Minha geladeira Norge
vai morrendo fria,
de dolorosa morte;
estrebucha, desalenta
vai morrendo lenta,
está a tornar-se rígida.
Ela espasma, engolfa, freme
sua infrene agonia
o organismo esbate, treme;
sua estrutura estala
e os 53 anos que vivia
ela simplesmente exala.
*Poemas do livro “Aversum”, 1998.