Arjen Duinker nasceu a 31 de dezembro de 1956 , em Delft, Países Baixos. Formado em psicologia e filosofia, é considerado um dos mais importantes poetas holandeses de sua geração. Com uma escrita descritiva e extremamente imagética, faz de sua obra poética uma verdadeira análise crítica sobre a realidade humana, buscando sentidos puros e imediatos para a expressão de suas palavras. Polemista e por diversas vezes irônico, trabalha a partir de uma dispersão de seres, objetos, sombras e luzes, para ilustrar cenários de um universo em que tudo existe em seu próprio lugar, até que a força do poema atravesse esses ambientes e produza os significados que cada espaço pede para se tornar visível.
VALSA INVERTIDA
A noite rola para dentro?
A noite rola para dentro.
Pela rua mais bela?
Pela rua mais bela.
O dia rola para dentro?
O dia rola para dentro.
Sobre a rua mais bela?
Sobre a rua mais bela.
Há pessoas a gritar?
Há pessoas a gritar.
Na rua mais bela?
Na rua mais bela.
Esvaziam as suas pistolas aos tiros?
Esvaziam as suas pistolas aos tiros.
A MOSCA
Não me dizem nada, não me contam nada.
O meu saber é ignorância.
Invento tudo, inverso a respiração.
Invento a cidade da eterna primavera
E o riso das crianças.
Sou o segredo nos lábios
E não aceito nenhuma palavra de um deus.
Não imagino faisões,
Imagino cavalos.
HOMENS E MULHERES
Organizam a profundidade.
Vagueiam por salas e corredores.
Estão sentados em sacos de lixos e banquinhos.
Galgam muros.
Levam pensamentos.
Escondem-se num cortejo.
Saltam arcos.
Criam espaço para os cães.
Abanam com papéis.
Comem peixe e pão e pó.
Desarrumam as coisas no escuro.
Sussurram para a lua.
AMBIÇÃO
Após o meu encontro com o vendedor de armas
Entrei no café para contar como foi.
Disse que eu achava a terra inegável,
Até o dia de hoje uma franca verdade.
Disse também que o papagaio do vendedor estava calado.
Com mais verdade não podia ter falado.
E disse que a ambição o fazia transpirar,
Uma verdade que lembrava o casual.
E disse ainda qualquer coisa sobre o preço das armas,
Verdade que rega todos os encontros com dor.
AS ABSTRAÇÕES SÃO COISAS
As abstrações são coisas.
A vontade é menos concreta do que uma garrafa vazia
Mas é abstrata e coisa, mesmo não sendo garrafa vazia.
Olhe só, as abstrações são coisas!
Por que é que não se diz isso mais vezes?
As características das coisas impossíveis de encontrar
Vão, passando pelas costas do gato,
Dar em pepino na relva.
A relva é mais abstrata do que a pergunta
Sobre o que o pepino ágil está fazendo ali.
Mais abstrata do que a soberba da tampa,
Do que o perfume encantador que emana de raciocínios,
Do temperamento da estrada
E das coisas que no idioma delas
São coisas concretas.
*Poemas do livro “Antologia Provisória”, Editora Confraria do Vento, 2015.
Tradução de Arie Pos