Gonzalo Escudero Moscoso nasceu em 28 de setembro de 1903, em Quito, Equador. Poeta, professor e diplomata, serviu como Embaixador equatoriano em países como Uruguai, Peru, Argentina, Colômbia, Brasil e Bélgica. Fez parte da UNESCO, em 1960,  e foi Secretário de Educação, Secretário do Congresso e Ministro das Relações Exteriores. Faleceu no dia 10 de dezembro de 1971, em Bruxelas, Bélgica.


OS DÓLMENS

A névoa me vendou os olhos. Estou cego.
A floresta de pinheiros tremes como uma cúpula
sobre a minha cabeça rebelde.
A noite sonha como um órgão.
Minhas mãos incandescem.
Apertei os troncos das árvores.
Estrangulei os torsos das mulheres
e rompi a terra como um ventre.
Hoje, Hoje!
Trovão, gole de Deus!
Meus braços se agigantam como trombas oceânicas.
E eu estou só
diante a minha eternidade, como os dólmens.
Ninguém saberá depois quem soprou os ciclones,
quem abriu os abismos como mandíbulas.
Ninguém!
Furacões, gritem, que estou sozinho.
A névoa me vendou os olhos. Estou cego!

PARÁBOLA DA MONTANHA

O olímpico torso da montanha é como
a vértebra do mundo! Quem poderia
aprisionar o mundo, como a chama de uma fogueira!
A rocha estremece como uma carne viva.
O fogo milagroso do Tambor na entranha
do abismo. Sou como a rocha sensitiva
da montanha!

PARÁBOLA DO VENTO

Sob um céu de estrelas consteladas, o vento
virá! Seremos outro. E o furação travesso
parecerá que sonha momento por momento,
parecerá que vibra do milagre de um beijo.
Os seios ondulante serão espuma frágil!
Os lábios serão cordas de um estremecimento!
Os corpos serão ânforas de liturgia! Carne ágil
como o vento!

PARÁBOLA DA ÁGUA

Hoje ou amanhã, quando nosso divino suco
tremerá iluminado na copa celeste
de uma árvore e na curva romântica do humo?
Hoje ou amanhã, quando tornaremos neste
devir? Uma bruma, um remanso, uma fonte…
Hoje ou amanhã, quando? Serei como uma forja
plena de sol?… E você? Voltará transparente
como a água…

PARÁBOLA DO FOGO

A risada histérica do ciclone destoa
o bufar trágico das chamas. Se prende
o universo como uma brasa trêmula
nas ardentes línguas do Sinai que estende
seus olímpicos braços de pedra. Nos assombra
que o fogo nos abrasou no abismo cego,
na maravilhosa vertigem da sombra!
O fogo!

*Tradução de Igor Calazans para o Recanto do Poeta.