Caio Fernando Abreu
Caio Fernando Loureiro de Abreu nasceu no dia 12 de setembro de 1948, em Santiago do Boqueirão, Rio Grande do Sul. Uma das figuras mais representativas da literatura brasileiras nas décadas de 70 e 80, é mais conhecido como romancista, contista e dramaturgo, porém, também foi poeta, apesar de não ter publicado livros. Recebeu por três vezes o Prêmio Jabuti, na “Categoria Contos, Crônicas e Novelas” com as obras: “O Triângulo das Águas” (1984), “Os Dragões Não Conhecem o Paraíso” (1989) e “As Ovelhas Negras” (1995).
Inquieto, questionador e sempre muito reflexivo, Caio Fernando Abreu começou a escrever muito jovem. Aos 18 anos, em 1966, publicou o seu primeiro conto na revista Cláudia. Voz ativa de sua geração, usou das prosas para reverberar pensamentos contra a violência e a censura do regime militar. Durante a ditadura, precisou fugir por diversas vezes, se exilando na Europa (em Londres e em Estocolmo) até 1974, quando volta para o Rio de Janeiro.
Mesmo em seus contos, prosas e romances, a faceta lírica de Caio Fernando Abreu sempre esteve exposta em seus textos. Conhecido pelo perfeccionismo, utilizando linguagem transgressora e muito próxima da coloquialidade, a poesia de Caio exprime toda a sua obra e abordam temas como o amor, a paixão e os desejos, a dor, a solidão e a existência humana. Porém, como poeta, ele nunca se apresentou oficialmente por achar que os seus versos não possuíam valor literário.
Por isso, ele nunca publicou os seus poemas em livros. Depois da sua morte, os poemas permaneceram inéditos durante 16 anos, quando enfim foram apresentados em catálogo. Ainda assim, cerca de 116 poemas, escritos entre os anos de 1960 e 1996, estão fora desta publicação.
Em 1994, em uma série de três cartas denominadas “Cartas para Além do Muro”, escritas no jornal O Estado de S. Paulo, declara ser portador do vírus da AIDS. Caio Fernando Abreu faleceu no dia 25 de fevereiro de 1996 em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
Poemas de Caio Fernando Abreu:
Invernal
Quero afundar no meu canto até o fundo mais fundo onde só há o eu sozinho amor, terreno vedado para os passos que tentei. Quero morrer no meu canto como morrem os elefantes como adoecem os cães completamente escondidos amor, espaço minado cheio de cacos de vidro meu...
Faz Anos Navego o Incerto
Faz anos navego o incerto. Não há roteiros nem portos. Os mares são de enganos e o prévio medo dos rochedos nos prende em falsas calmarias. As ilhas no horizonte, miragens verdes. Eu não queria nada além de olhar estrelas como quem nada sabe para trocar palavras, quem...
Breve Memória
De ausências e distâncias te construo amigo amado. E além da forma nem mão nem fogo: meu ser ausente do que sou e do que tenho, alheio. Na dimensão exata de teu corpo cabe meu ser cabe meu voo mais remoto cabem limites, transcendências. Na dimensão do corpo que tu...
Vem Navegar na Minha Vida
Vem navegar na minha vida Faça de conta que meu corpo é um rio, Faça de conta que os meus olhos são a correnteza, Faça de conta que meus braços são peixes Faça de conta que você é um barco E que a natureza do barco é navegar. E então navegue, sem pensar, Sem temer as...
Stone Song
Eu gosto de olhar as pedras que nunca saem dali. Não desejam nem almejam ser jamais o que não são. O ser das pedras que vejo é só ser, completamente. Eu quero ser como as pedras que nunca saem dali. Mesmo que a pedra não voe, quem saberá de seus sonhos? Os sonhos não...
Oriente
manda-me verbena ou benjoim no próximo crescente e um retalho roxo de seda alucinante e mãos de prata ainda (se puderes) e se puderes mais, manda violetas (margaridas talvez, caso quiseres manda-me Osíris no próximo crescente e um olho escancarado de loucura (um...