Fernando Pérez Villalba nasceu em Montevidéu, Uruguai, em 1961. Poeta, escritor e Engenheiro Químico, estudou escrita literária, roteiro de filme, canto musical e criação poética na Universidade Federal de Minas Gerais e na Universidade de São Paulo. Em 2014, venceu do Prêmio de poesia “Maria Eloísa García Lorca”, com o poema “Campanadas”, concedido pela UNEE (Unión Nacional de Escritores de España). Em 2008, foi finalista do Prêmio Planeta, com a obra “Victorino: El vuelo de un mago” (sem tradução para o Português).  Em 2010 sua obra “Rosedal” foi vencedora do I Concurso de Poesia “E por falar em Casa das Rosas”, da Secretaria de cultura do Estado de São Paulo.

.             Talvez

.    Nunca adormeça
sob um fantasma azul.
Talvez o olho do sonho
.    ache que ele é seu

.   Nunca adormeça
sob um fantasma azul.
.   Talvez assim seja
.   morrer de solidão.

.                                                                         Aqui
Sonhará Caetano seus deuses da chuva.
Perderá um trem Adoniran.
E nos temporais choverão estrelas
Ruas foragidas, ventos de canção.
Juntos às estátuas vivas de Veneza,
virá gente nova.
E São Paulo,
São Paulo será, como sempre,
melhor.

.             Exploração
.     Imerso em rendas afiadas
.             seu peito água.
.            Seu peito leve.
.            Seu peito língua.
.                 Pontual.

Conversa, dançam camadas antigas.
.      Tecidos em defesa própria,
.          braços de box.

.  O tempo condensa cristais de açúcar
.        em bordas musicais.
Antigos argumentos perdem densidade
.       nesse limbo elétrico
mais pra lá de mim mesmo,
.   mais pra cá do animal.

. Grunhidos, argamassas guturais
.          vão rasgando o ar.
.          Espelham silêncio
.          seres minúsculos.

.        Entre a pele de mel
.         e o oásis de sardas,
.   brotam gotas de palavras.

.     Bebo o fim.
.  Explode um galáxia.

.        Revelado
.
.   Tirei seu retrato
.        da parede.
.     Ficou o claro,
.  a marca permanente.
.     Agora sim,

.        é você.

.                         Conselho

.     Nunca espie os fantasmas do vizinho.
.        Sua janela também estará aberta.

.                       Tecnologia

.     Ela sempre esteve aí, pele de pedra,
.      deusa dos artistas, dos corsários,
.            braço amputado no mouse.
Candeias de quarta geração, fosforesce o rosto no computador.

.          Ousei dizer alguns versos,
.                     se arrepiou.
.               Não ela, o vestido.
.   Os tecidos compreendem cada vez mais.

*Poemas do livro “VAIVÉN – A lei do girassol”, Editora Ibis Libris, 2024.