Mario Quintana
Mario de Miranda Quintana nasceu no dia 30 de julho de 1906, na cidade de Alegrete, Rio Grande do Sul. Considerado um dos maiores poetas brasileiros do século XX, fez das coisas simples da vida o mote de suas obras. Apesar de não ter feito parte da Academia Brasileira de Letras (ABL) – chegou a ser indicado em 1940 -, recebeu da instituição o “Prêmio Machado de Assis”, principal honraria literária do país, em 1980. No ano seguinte, em 1981, foi agraciado com o Prêmio Jabuti, como “Personalidade do Ano”.
Mestre das palavras e dono de singelas reflexões sobra a vida e a nossa existência, Quintana usou toda a sua sabedoria para conseguir mostrar que a escrita poética poderia ser bem mais simples do que aparentavam as obras clássicas, mesmo que ele também a fizesse com toda a perfeição técnica. Usando muito sarcasmo, o autor gostava de apresentar poemas curtos, mas com grande reverberação intelectual. Seus temas mais abordados eram o cotidiano na cidade, o amor, o tempo e a percepção lúdica e ingenua das crianças em relação ao mundo.
Lançou-se na literatura poética aos 34 anos, com o livro de temática infantil, “A rua dos cata-ventos”. Porém, somente em 1966, sua obra ganha reconhecimento nacional, com a publicação de sua “Antologia Poética”, organizado pelos escritores Paulo Mendes Campos e Rubem Braga. Além de poeta, Quintana também traduziu obras de autores como Voltaire, Virginia Woolf e Maupassant. Uma de suas traduções mais importante foi “Em Busca do Tempo Perdido”, de Marcel Proust.
Mario Quintana faleceu no dia 5 de maio de 1994, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
Poemas de Mario Quintana:
Eu Queria Trazer-te uns Versos muito Lindos
Eu queria trazer-te uns versos muito lindos colhidos no mais íntimo de mim… Suas palavras seriam as mais simples do mundo, porém não sei que luz as iluminaria que terias de fechar teus olhos para as ouvir… Sim! Uma luz que viria de dentro delas, como essa que acende...
Canção do Dia de Sempre
Tão bom viver dia a dia… A vida assim, jamais cansa… Viver tão só de momentos Como estas nuvens no céu… E só ganhar, toda a vida, Inexperiência… esperança… E a rosa louca dos ventos Presa à copa do chapéu. Nunca dês um nome a um rio: Sempre é outro rio a passar. Nada...
Bilhete
Se tu me amas, ama-me baixinho Não o grites de cima dos telhados Deixa em paz os passarinhos Deixa em paz a mim! Se me queres, enfim, tem de ser bem devagarinho, Amada, que a vida é breve, e o amor mais breve ainda…
Eu Escrevi um Poema Triste
Eu escrevi um poema triste E belo, apenas da sua tristeza. Não vem de ti essa tristeza Mas das mudanças do Tempo, Que ora nos traz esperanças Ora nos dá incerteza… Nem importa, ao velho Tempo, Que sejas fiel ou infiel… Eu fico, junto à correnteza, Olhando as horas tão...
Das Utopias
Se as coisas são inatingíveis… ora! Não é motivo para não querê-las… Que tristes os caminhos, se não fora A presença distante das estrelas!
Envelhecer
Antes, todos os caminhos iam. Agora todos os caminhos vêm A casa é acolhedora, os livros poucos. E eu mesmo preparo o chá para os fantasmas.
Esperança
Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano Vive uma louca chamada Esperança E ela pensa que quando todas as sirenas Todas as buzinas Todos os reco-recos tocarem Atira-se E — ó delicioso voo! Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada, Outra vez...
Os Poemas
Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês. Quando fechas o livro, eles alçam voo como de um alçapão. Eles não têm pouso nem porto alimentam-se um instante em cada par de mãos e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias, no...
Relógio
O mais feroz dos animais domésticos é o relógio de parede: conheço um que já devorou três gerações da minha família.
Poeminho do Contra
Todos esses que aí estão Atravancando meu caminho, Eles passarão… Eu passarinho!
Emergência
Quem faz um poema abre uma janela. Respira, tu que estás numa cela abafada, esse ar que entra por ela. Por isso é que os poemas têm ritmo — para que possas profundamente respirar. Quem faz um poema salva um afogado.
Do Amoroso Esquecimento
Do amoroso esquecimento Eu agora — que desfecho! Já nem penso mais em ti… Mas será que nunca deixo De lembrar que te esqueci?
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