Maria Teresa de Mascarenhas Horta Barros nasceu em Lisboa, Portugal, a 20 de maio de 1937. Poeta, escritora e jornalista, é muito reconhecida por sua militância e engajamentos. Fez parte do Movimento Feminista, “Três Marias”, juntamente com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa. Em 1972, esse grupo lançou o livro “Novas Cartas Portuguesas”, que na época gerou grande polêmica, sendo as autoras processadas e julgadas. Dona de diversos prêmios e honrarias na carreira, em 2017, chamou a atenção  por recusar receber o terceiro lugar do 4º Prêmio Oceanos (prêmio de Literatura em Língua Portuguesa), atribuído anualmente pelo Itaú Cultural no Brasil. A recusa teve como motivo principal o fato da poeta ter que partilhar a premiação com o autor Bernardo Carvalho, atribuindo que estavam acontecendo empates sucessivos e que isso era desrespeitoso.


De “Anjos mulheres”

XI

Voamos a lua
Menstruadas

Os homens gritam
– são as bruxas

As mulheres pensam:
– são os anjos

As crianças dizem:
– são as fadas

AMAMENTAR

Quem alimentas
tu
que dás o peito?

O leite
depois o sangue
do teu corpo

Quem alimentas
tu
que dás o peito?

Mulher de seio
húmido
calado à boca do povo

MODO DE AMAR I

Lambe-me os seios
desmancha-me a loucura

usa-me as coxas
afaga-me o umbigo

abre-me as pernas
põe-nas nos teus ombros

e lentamente faz o que digo

A VEIA DO (TEU) PÊNIS

O vulto…
A vulva?

A veia em movimento
que cresce e doma
o nervo do teu pênis

O ventre…
O vácuo?

O vício do teu corpo
ópio de esperma
com qual me enveneno

EDUCAÇÃO SENTIMENTAL

Põe devagar os dedos
devagar…

e sobe   devagar
até o cimo

o suco lento que sentes
escorregar
é o suro das grutas
o seu vinho

Contorna o poço
aí tens de parar
descer, talvez
tomar outro caminho…

Mas põe os dedos e sobre
devagar…

Não tenhas medo
daquilo que te ensino

INVOCAÇÃO AO AMOR

Pedir-te a sensação
a água
o travo

aquele odor antigo
de uma parede
branca

Pedir-te da vertigem a
certeza
que tens nos olhos quando
me desejas

Pedir-te sobre a mão
a boca inchada
um rasto de saliva
na garganta

pedir-te que me dispas
e me deites
de borco e os meus seios
na tua cara

Pedir-te que me olhes
e me aceites
me percorras
me invadas
me pressintas

Pedir-te que me peças que
te queira
no separar das horas
sobre a língua

AMÊNDOA AMARGA

Esse travo inteiro
a amêndoa
amarga

A ameixa
a doce a ferver no tacho

Esse travo na língua
a fermentar no corpo

A febre a nascer
a crescer debaixo

Em baixo…
a saia a subir nas coxas
e esse cheiro mais grosso se entreabro

As pernas os lábios
e o gosto
onde o sabor da amêndoa
se torna mais amargo

É esse o momento
o instante exato
em que tudo se prende
ao gesto sem sentido

A calda no ponto
deixa a língua em brasa

E eu tiro pela cabeça
o meu vestido

*Poemas do livro “Poemas Eróticos”, Oficina Raquel, 2018.