Escrevo porque ouço vozes,
umas gritam de coragem outras de medo,
e todas elas agitam em silêncio o meu coração.
Nada a ver com gramática,
estética, ética ou métrica,
escrevo porque em mim
a palavra é fio desencapado
é elétrica.

A Polícia acadêmica quando enquadra,
não sabe ou esqueceu,
que as ruas gritam livres
ainda que durma na calçada.

A Poesia é sem sobrenome
pede um real pra comprar pão
dois reais pra comprar pinga
e um cobertor para cobrir a fome.

Dança roda com as crianças
beija a mão do trabalhador
bate ponto na esquina
no boteco
nas escolas
e anda de chinelo
pra não deixar rastros
ao perseguidor.

Poesia bebe fuma
não bebe não fuma
bate uma bola
joga sinuca
samba na laje
chora na chacina
e anda com o povo.

Poesia
sangra nos olhos
é soco no abdome…

Vixe,
melhor ficar quieto
ouço sirenes…
Deve ser os zomi.