O Brasil amanheceu com uma triste notícia nessa segunda-feira, 13 de abril. O cantor, compositor e poeta, Moraes Moraes faleceu aos 72 anos, após sofrer um ataque fulminante no miocárdio, enquanto dormia em sua residência no Rio de Janeiro. O artista, nascido em Ituaçu, na Bahia, é reconhecidamente um dos maiores nomes da MPB, sendo o líder dos “Novos Baianos”, um dos grupos mais originais do país, criado no final da década de 60.
Além de músico, Moraes Moreira também foi um poeta literato. Em 2015 publicou o livro “Poeta Não Tem Idade”, obra que apresenta narrativas poéticas, em forma de cordel, sobre suas percepções de mundo. Em 2016, a convite da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, tomou posse como Acadêmico, ocupando a cadeira número 38.
Em 17 de março de 2020, em meio ao início da quarentena social no Brasil por causa da pandemia do novo coronavírus, Moraes Moreira apresentou o seu último poema, abordando a situação atual no país. O artista publicou a poesia em seu perfil do Instagram, no dia 18 de março. Veja a postagem abaixo:
“Oi pessoal estou aqui na Gávea entre minha casa e escritório que ficam próximos, cumprindo minha quarentena, tocando e escrevendo sem parar. Este Cordel nasceu na madrugada do dia 17, envio para apreciação de vocês . Boa sorte.” (Moraes Moreira)
“Quarentena” (Moraes Moreira)
Eu temo o coronavirus
E zelo por minha vida
Mas tenho medo de tiros
Também de bala perdida,
A nossa fé é vacina
O professor que me ensina
Será minha própria lida
Assombra-me a pandemia
Que agora domina o mundo
Mas tenho uma garantia
Não sou nenhum vagabundo,
Porque todo cidadão
Merece mas atenção
O sentimento é profundo
Eu não queria essa praga
Que não é mais do Egito
Não quero que ela traga
O mal que sempre eu evito,
Os males não são eternos
Pois os recursos modernos
Estão aí, acredito
De quem será esse lucro
Ou mesmo a teoria?
Detesto falar de estrupo
Eu gosto é de poesia,
Mas creio na consciência
E digo não a todo dia
Eu tenho medo do excesso
Que seja em qualquer sentido
Mas também do retrocesso
Que por aí escondido,
As vezes é o que notamos
Passar o que já passamos
Jamais será esquecido
Até aceito a polícia
Mas quando muda de letra
E se transforma em milícia
Odeio essa mutreta,
Pra combater o que alarma
Só tenho mesmo uma arma
Que é a minha caneta
Com tanta coisa inda cismo….
Estão na ordem do dia
Eu digo não ao machismo
Também a misoginia,
Tem outros que eu não aceito
É o tal do preconceito
E as sombras da hipocrisia
As coisas já forem postas
Mas prevalecem os relés
Queremos sim ter respostas
Sobre as nossas Marielles,
Em meio a um mundo efêmero
Não é só questão de gênero
Nem de homens ou mulheres
O que vale é o ser humano
E sua dignidade
Vivemos num mundo insano
Queremos mais liberdade,
Pra que tudo isso mude
Certeza, ninguém se ilude
Não tem tempo,nem idade”