cotovelo no asfalto em cotovelo cotovela.
a fila espera. estou na fila. espero também.
a fila dá a volta num quarteirão inteiro
que suspeito não ser um quadrado perfeito.
não sei o que espero. não sei se a fila sabe.
espero. não pergunto. seria ridículo, agora,
depois de tantas horas com a mesma cara
bovina. sei fazer cara bovina. muito bem.
trouxe coisas para me ocupar: um jornal;
um lápis para escrever o Tratado para a
desinvenção da penicilina, opus magnum
romantiquinha; cinco dores (uma moral).
esqueci algumas outras coisas. me ocupo
com as que ficaram longe: o mínimo
necessário (por exemplo) para aterrissar
um aeroplano num rio que parece o mar.

a fila anda. eu ando atrás. não sei do quê.
ouvi dizer que é bom, bonito, barato não sei.
ouvi dizer de esquina, assim, canto de boca,
assim um sussurro que cotovelou o quarteirão
que não é um quadrado perfeito porque aqui
é o Rio de Janeiro. aquele é aquele. olharam
para mim. meu nome deu a volta no cotovelo
dobrei meu rosto. tenho que esperar. espero.
não posso ir, agora, bovinamente, falam de mim:
aquele que nem chegou a amar aquela ali
no espaço daquele dia. o que faz logo aqui.

a fila anda. eu ando atrás. não sei do quê.