(A D. GEORGIANA)
Quando a lua, surgindo no horizonte,
Vem de luz orvalhar-te a linda face;
Em que cismas se enleia, doce virgem,
Tu’alma pura como a flor que nasce!
Bebes, filha do céu, nos brandos lumes
De teu olhar a mágica doçura?
Ou do seio de Deus um anjo desce
Ao teu seio no raio que fulgura?
Foi ontem. Carinhosa e terna a lua
Beijava o teu semblante; e as brancas vestes
Acetinando, a fronte te perlava
D’aljôfares de luz, joias celestes.
Tu sorrias. De vaidade estreme
Te deixavas toucar dos véus fulgentes.
Quanto eras bela assim de luz cingida,
Modesta virgem, nem sequer pressentes.
Calou-se a noite. No silêncio augusto
Fugiu a soluçar a onda trépida.
E a brisa, longe, perpassando a medo,
Sussurrou na floresta leve e crépida.
Pelos montes-que a lua prateava
Teu vago olhar correu fagueira a vista.
Tudo admiravas, tudo, o céu e à terra,
Eu resumia em ti um Deus artista.
“— Ah quem me dera” murmurou teu lábio,
“Ser poeta, cantar a natureza
E dizer quanto eu sinto contemplando
Desta noite suave a alma beleza!”
Oh! não deves dizer, cândida virgem!
Não diz a flor como o perfume estila,
A pérola não diz como se forma,
Nem fala a estrela que no céu cintila.
Quanto cismas no casto devaneio,
Vaza tua alma nesse olhar divino;
É sublime poema o teu sorriso,
No gesto meigo tens da graça um hino.
Deu-te Deus a poesia como os raios
Deu ao sol, porque ao mundo a luz desfira;
Teu poder é maior: crias poetas.
Cumpre o teu fado, virgem loura, inspira!