Flávia Rocha nasceu em São Paulo (SP), em 1974. Poeta, jornalista e roteirista. Seus poemas, traduções e ensaios foram publicados em diversas revistas brasileiras e internacionais. Por 13 anos foi editora da revista literária americana Rattapallax. Também trabalhou nas revistas Carta Capital, Bravo!, Casa Vogue e República. É fundadora e diretora de comunicação da Academia Internacional de Cinema (AIC), e corroteirista, com Steven Richter, do longa-metragem Birds of Neptune (EUA, 2015). Vive em Lisboa (Portugal).
TEMPESTADE
As folhas cansadas dançam
o Qubra-Nozes na calçada;
o vento bravo corta a rua
– qual espada em pedra nua.
Grita todo o céu! Mas não há mar.
Se houvesse mar, haveria sal…
E há apenas silêncio.
Pouco captam o silêncio…
Estes trovões bradando
– apenas silêncio.
Estes escuros duros
– apenas silêncio.
Estas águas velhas gotas
. de espelho
– apenas silêncio e rachaduras.
Capta o silêncio
no incêndio da tempestade
e não me apagues…
PENHASCOS
Eu sentirei tua falta
como as rochas mais altas anseiam o beijo do mar.
Eu sentirei tua falta
como a lua que procura as estrelas
nas noites vazias secas de céu.
Eu sentirei tua falta
como o inverno que aguarda um dia a primavera
espiando tácito da janela.
Eu sentirei tua falta
como as árvores que permanecem sozinhas
nos penhascos antigos…
Como os penhascos antigos
que suspiram desesperadamente por pássaros belos.
INSENSATEZ
Tenho em mim toda a calma e toda a falta.
Tenho tuas feições delicadas
dormindo lânguidas em paredes cálidas
e tenho tua cor, tua sutil flor em rosa
– um vazio que chamo apenas de amor.
Fiz-me escada louca pra mirar tua boca
e cair do alto da morada frouxa
que é tua louça, que é tua roupa,
que é teu rosto suposto no espelho
. da insensatez
– não, não me quebres… eu sou teu resto!
*Poemas do livro “Quartos Habitáveis”, Confraria do Vento, 2011.