Carlos Cardoso nasceu no Rio de Janeiro, a 30 de dezembro de 1973. Poeta e engenheiro, é um dos mais destacados escritores da geração. Já recebeu diversos prêmios, entre eles, o Prêmio da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), em 2023, Prêmio APCA (Associação Paulista dos críticos de Arte), em 2019, além da Medalha Pedro Ernesto, em 2023. Seus poemas foram traduzidos e publicados em países como França, Espanha, Itália, Portugal, Estados Unidos, México, Colômbia, Bulgária e Ucrânia.

FRASE PRIMEIRA

E como falar de outra forma?
E como cortar e reformatar o futuro,
e assim querer e ser sem par?

Por que ser assim pura forma?

Tanta cor entre ares dúbios,
ferrugens, e sorrateiros costumes
de manter sombras assimétricas,
como a de pensar antes de ser,
como a de escrever e andar
por entre cadeiras
que margeiam limites intangíveis,
formas sem abdômen, sem retina.
Ainda quero uma frase primeira,
nua, ligeiramente inteira.

MÃOS TRANSPARENTE

Um sopro de ar sutil e leve
por entre as nuvens estreita o destino,
luz que ilumina os sons.

Além de ninguém,
eu sei quem tu és.
Vento forte, dedos finos,
mãos transparentes.

DIAS PRESTES

Vou virar parede perto de ti.
Me disfarçar de rede,
me esconder de solo.

Vou virar parede perto de ti.
E destroçar o que em mim agride,
sentido avassalador que reside.

Vou virar parede.

Estancar ao vento o que tu fizeste,
mágoas, dias prestes,
e virar parede perto de ti.

CORPO VAZIO

Atrair o arvoredo
e despi-lo d’alma,

cortar as folhas
e o caule, bani-lo

O tronco cortá-lo
até atingir as raízes,

restar apenas o corpo,

vazio.

ESPELHOS

Eu não conseguiria enfrentar
as águas frias dos mares nórdicos
e a escuridão que trago
em meu peito se os teus olhos não
me acompanhassem em solidão.

Digo um não que não basta,
e, para que não baste,
digo minha Menina que o sol e a luz
por trás das montanhas
nascem de tua franca beleza.

Teus olhos são espelhos de minh’alma,
e minha é a nuvem que carrega.

*Poemas do livro “Coragem”, Editora Record, 2023.