Tadeusz Różewicz nasceu no dia 9 de outubro de 1921, em Radomsko, Polônia. Poeta e dramaturgo, fez parte da primeira geração de escritores polacos nascidos depois da independência do país, em 1918, após o século de partições estrangeiras. Durante a Segunda Guerra Mundial serviu o exército ao lado de seu irmão Janusz (também poeta), que acabou morto em combate. Como poeta recebeu diversos prêmios e honrarias, como o Prêmio Europeu de Literatura, em 2007. Tadeusz Różewicz faleceu no dia 24 de abril de 2014, em Breslávia, Polônia.


No teatro de sombras

Da rachadura
entre eu e o mundo
entre eu e o objeto
da distância
entre o substantivo e o adjetivo
tenta sair
a poesia

tem que elaborar
tais ferramentas
modelar tais formas
que se agarram de mim
e da palavra
como duas bordas
que se afastam
sem cessar

rota
tenta uma vez mais
cercar
comparar
unir
sair
para a superfície

eu vou.

Poema patético

Eles cuspiram na cara do poeta
pelos séculos vão
a limpar a terra e as estrelas
pelos séculos
vão a limpar seus rostos

O poeta sepultado vivo
é como um rio subterrâneo
guarda em si
os rostos os nomes
a esperança
a pátria

O poeta enganado
ouve vocês
ouve sua própria voz
olha ao redor
como um homem de noite
acordado

Mas a mentira do poeta
é de múltiplas linguagens
e enorme
como a torre de Babel

é monstruosa
e não morre

Escrevia

Escrevia
um momento ou uma hora
uma tarde ou uma noite
me enchia de ira
estremecia ou ficava mudo
sentado ao lado de mim mesmo
as lágrimas nublavam meus olhos
escrevia fazia muito tempo
de repente me dei conta
que não tinha caneta na mão

Rosa

Rosa é uma flor
ou o nome de uma garota morta

Rosa pode ser colocada em mãos quentes
ou na terra negra

A rosa vermelha grita
a de fio dourado partiu em silêncio

O sangue fugiu da pétala pálida
a forma abandonou os vestidos da garota

O jardineiro cuida do roseira
o pai salvo enlouquece

Cinco anos passaram desde a sua morte
a flor do amor que não tem espinhos

Hoje floresceu a rosa no jardim
morreu a memória dos vivos e a fé.

Trancinha

Depois de se terem barbeado
para todas as mulheres do transporte
quatro trabalhadores com vassouras
feitas de tília varriam
e acumulavam o cabelo

Sob os vidros limpos
estavam os cabelos duros dos asfixiados
na câmara de gás
e estes cabelos têm grampos
e painetas de haste

Não os atravessa a luz
não os separa o vento
nos os toca a mão
nem a chuva nem os lábios

Nas caixas enormes
se encrespam os cabelos secos
dos asfixiados
e a trancinha gris
uma cauda de rato com uma fita
que escondem na escola
os garotos travessos

*Poemas do livro “Inquietude”, Edições El Tucán de Virgínia, 1993.
Tradução de Igor Calazans para o Recanto do Poeta