
Anna Akhmátova
Anna Andreevna Gorenko, mais conhecida pelo pseudônimo Anna Akhmátova, nasceu no dia 23 de junho de 1889, em Odessa, na Ucrânia. Uma das mais importantes poetas do século XX, fez parte do Acmeísmo literário, movimento do modernismo russo, que buscava usar uma linguagem simples, clara e usual, divergindo às tendências vanguardistas demolidoras. Conhecida como “Anna de todos os russos”, a escritora representou uma voz política e social na luta pela liberdade do país fazendo com que seus versos fossem ecoados como verdadeiros hinos da resistência a Stálin.
Anna começou a escrever poesia ainda criança, aos 11 anos de idade. Porém, o seu pai, um engenheiro naval, desvalorizava os versos da filha, chamando-a de “poeta decadente” e não autorizando o uso do seu sobrenome nos poemas, com medo de desonrar o nome da família. Sem esmorecer, Anna passou a utilizar o sobrenome Akhmátova, herdado da sua bisavó, uma princesa tártara descendente do guerreiro Guênguis Khan.
Assinando os seus primeiros trabalhos como Anna Akhmátova, a sua obra começou a chamar atenção pela diversidade de composições, formas de escrita e temas. Fazia de pequenos poemas líricos a grandes textos críticos, abordando questões referentes ao passar do tempo, suas maiores recordações, o papel intelectual da mulher na sociedade russa, além do medo que sentia e da agonia de viver sem a liberdade de expressão durante o estalinismo.
Em 1910, casa-se com o poeta Nikolai Gumilev, com quem teve seu único filho, Lev, em 1912. Gumilev foi executado em 1921 por causa de atividades consideradas anti-sovietes. Para não sofrer as mesmas consequências, Anna foi forçada à censura, deixando de publicar qualquer poema entre os anos de 1925 e 1952 (exceto de 1940 a 1946). Em 1938, Lev foi preso e, achando que era por sua culpa, Anna queimou todos os seus cadernos de poemas. Mesmo assim, ela memorizou tudo o que escreveu e recitava suas obras em tertúlias com amigos. Dona de uma beleza singular e com uma voz pausada e muito charmosa ao declamar, tornou-se musa de muitos artistas da época, como o artista plástico e escultor italiano, Amadeo Modigliani.
Epicentro cultural da Rússia para os movimentos vanguardistas da época, São Petersburgo também foi uma grande fonte de inspiração nas obras de Anna Akhmátova. De natureza boemia, ela viveu com muita intensidade as noites da cidade, explorando, por exemplo, a sua sexualidade. Teve um relacionamento aberto com crítico de arte, Nikolai Púnin (o seu “terceiro marido”), que era casado. Apesar disso, todas as partes mantinham bom relacionamento, inclusive com Anna chegando a passar momentos na mesma casa da família de Púnin, junto à sua esposa e filha.
Após a morte de Stálin, em 1953, Anna Akhmátova passou a ter o seu trabalho reconhecido internacionalmente, recebendo honrarias, como o prêmio literário “Taormina”, na Itália, e um título honorário, em Oxford, no ano de 1965.
Anna Akhmátova morreu em 5 de março de 1966, em Domodedovo, na Rússia.
Poemas de Anna Akhmátova:
Asa
Eu vivo como um cuco no relógio. Não invejo os pássaros livres. Se me dão corda, canto. Só aos inimigos Se deseja Tanto.
Torci os Dedos sob a Manta Escura…
Torci os dedos sob a manta escura… “Por que tão pálida?” ele indaga. – Porque eu o fiz beber tanta amargura Que o deixei bêbado de mágoa Como esquecer? Ele saiu sem reação, A boca retorcida, em agonia… Desci correndo, sem tocar no corrimão, E o encontrei no portão,...
Eu visitei o Poeta
(para Aleksandr Blok) Eu visitei o poeta ao meio-dia em ponto. Domingo. Quietude no amplo quarto e, fora das janelas, o frio e um sol cor de amoras silvestres, envolto em névoa hirsuta e azulada… Com que olhar aguçado o taciturno anfitrião olhava para mim! Tinha olhos...
Música
Algo de miraculoso arde nela, fronteiras ela molda aos nossos olhos. É a única que continua a me falar depois que todo o resto tem medo de estar perto. Depois que o último amigo tiver desviado o seu olhar ela ainda estará comigo no meu túmulo, como se fosse o canto do...
O Último Brinde
Bebo à casa arruinada, às dores de minha vida, à solidão lado a lado e à ti também eu bebo – aos lábios que me mentiram, ao frio mortal nos olhos, ao mundo rude e brutal e a Deus que não nos salvou.
Do Ciclo os Mistérios do Ofício
Não me importa o exército das odes, Nem o jogo torneado da elegia. Nos versos, tudo é fora de propósito. Não como entre as pessoas, – me dizia. Saibam vocês, o verso, é do monturo Que eles se alenta, sem vexame disso, Como um dente-de-leão pegado ao muro, Anserina,...
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