Ángel Campos Pámpano nasceu em San Vicente de Alcántara, Espanha, a 10 de maio de 1957 . Poeta, professor e tradutor, ficou conhecido por ser defensor da cultura e literatura de Portugal. A sua criação poética mais importante é “La Ciudad Blanca” (1988), uma obra pioneira de poesia contemplativa, impressionista e de forte impacto do seu conhecimento e descoberta da cultura portuguesa.

Professor do ensino secundário nos institutos da Estremadura e no Instituto Espanhol Giner de los Ríos, em Lisboa, Ángel foi responsável pela aproximação das relações culturais e poéticas entre as instituições e indivíduos da região fronteiriça da Estremadura e de Portugal.  Traduziu para o espanhol as obras de importantes autores da literatura portuguesa do século XX, como Fernando Pessoa, Carlos de Oliveira, António Ramos Rosa, Eugénio de Andrade , Sophia de Mello Breyner Andresen, entre outros.

Ángel Campos Pámpano faleceu em Badajoz, Espanha, no dia 25 de novembro de 2008.


COMO PEIXE NA ÁGUA

Para pintar
a água é necessário
o movimento
de um peixe que se repete
incerto, indecifrável.

Sozinho,
a ordem do que está escrito
perdura sempre.
Se você pintar na água,
as cores desaparecem.

Como você tem
a luz, o peixe em voo
para a profundeza
afunda. E lá descobre
a fertilidade do rio.

O CENTRO À DISTÂNCIA

Abre os olhos,
para um único acorde, para um ritmo
ensimesmado.
Requer um nome novo
esta luz que desponta.

Razão de ti
vão dando tuas palavras
mais pobres, boca
desnuda que conhece
a luz melhor do dia.

Neblina rosa
sumida no silêncio
profundo do ar.
Reconheço em seu nome
esta luz que declina.

A IDADE TARDIA

Literatura:
(na página em branco,
o não vivido
se cumpre na linguagem)
uma leve nostalgia.

Ler de novo
os jogos da idade
em Albuquerque.
Desejo da escrita,
Desmensurada e nobre.

6

Guarda um espelho
o rio que nos leva
quase em silêncio.

Veja lá dentro
que o remanso da água
quebra o remo.

Círculo aberto
onde nomear as coisas
que conhecemos.

10

Imagine o brilho
desnudo dos álamos,
os domínios da água
que definem a costa.
Um rio é como um cão
sem plumas, uma espada
– escreveu João Cabral
de Melo. Pelo ar
se ouvem os latidos
das noites de luar.

*Poemas do livro “Siquiera Este Refugio”, Pré-Textos Poesia, 1993.
Tradução para o site de Igor Calazans.