Francisco Muñoz Soler nasceu em Málaga, Espanha, a 24 de Dezembro de 1957. Organizador do Ciclo de Poesia Plenilunio de Málaga. tem uma vasta obra produzida, com diversos livros traduzidos pelo mundo. Já foi publicado em países como Portugal, Itália, México, Suécia, Estados Unidos, Índia, Cuba, Turquia, Peru, El Salvador, Venezuela e Honduras. Além disso, o seu trabalho também aparece em Antologias e em mais de uma centena de revistas literárias.

Sua obra é caracterizada pelo uso de uma linguagem poética simples e acessível, mas carregada de significado e emoção. Seus poemas estão repletos de metáforas e símbolos que evocam imagens poderosas e convidam o leitor a refletir sobre sua própria vida e às experiências que o levaram até onde está. Além da profundidade emocional, sua escrita apresenta estruturas cuidadosamente alinhadas ao ritmo e à musicalidade dos versos, onde pode-se reparar a sua influência com a tradição poética espanhola.

POR VEZES OS POETAS

Por vezes os poetas,
a partir de suas incertezas,
são tentados a
compreender a condição
humana,
tentando captar ecos,
declarações de silêncios,
o brilho dos beijos,
infinitos ao olhar,
sem a certeza de uma ciência
arqueológica capaz de resgatar
a origem
de nossas almas.

TÃO APRECIADA PERGUNTA

Tão apreciada pergunta
produzia silêncios eloquentes
que desintegrava o conteúdo
dos sinais de convivência.
Como viver?
Formuladas ingenuamente,
sustentadas por uma mão invisível
em uma teia de absurdos,
enquanto os pensamentos
cederam lugar ao vazio e à estupidez
insensíveis ao dano,
Wislawa contemplava do parapeito da janela o
desamparo dos indefesos
na Cracóvia de mil novecentos e oitenta e seis.

HÁ TÚMULOS QUE EM SEU SILÊNCIO

. «Há túmulos que em seu silêncio
revelam o mundo».
Rainer María Rilke

Há túmulos que em seu silêncio
revelam o mundo,
mantêm com gozo a harmonia
e emitem música que transcendem
muros, espinhos, mordaças,
que mantêm acesos os sonhos,
onde o amor sara feridas
com equilíbrio e conforto;
há túmulos que se alçam
sobre a solidão e a infâmia,
seu manancial de alegria
purifica chuvas ácidas.

CLANDESTINOS

. “Quanta vida ao derredor, quanta morte.”
Paul Celan

Clandestinos como mercadoria de saldo
navegam em direção à luz sem descanso
mau tempo, sede, cansaço
tensão entre o silêncio e a perda
o ódio demarca diferenças;
apenas um espaço de sombras sem pegadas
o terror une o céu e o abismo,
a ganância leva à morte os mais fracos.
Tinham a culpa na origem.

FURACÕES DE ESPÍRITOS DESPERTOS

Furacões de espíritos despertos
cheios de concórdia e afeto
que sepultem as mentiras;
tormentas de amor
plenas de valores justos
deixe que a ganância se afogue;
nos oceanos de fogo e indignação
num mergulho em abismos
a crueldade em silêncio,
para forjar uma revolução
com a coragem necessária
que esmague a injustiça.

O ÓDIO GOLPEIA SEM PAUSA

O ódio golpeia sem pausa
a quem carrega a culpa
de ser ou de crer diferente;
uma crueldade diária
protegido por estigmas
que relativizam o espanto;
o ódio persevera, seduz,
Entra nos fracos
oferece-lhes
identidade e refúgio;
uma pátria de cinzas
onde o ódio brota
e o sol estará sempre ao longe.

AOS QUE PRETENDEM ERGUER FRONTEIRAS

(Num mundo cada dia mais de todos)

Inundam a história com todo o esquecimento,
suas memórias ardem sob todos os silêncios
e multidões vociferam acenando bandeiras,
confabulam com ambiente festivo dias
de ódio onde o sectarismo asfixia
os céus
e, secretamente, cultivam rancores
que germinam em tragédias sem descanso.

ENFRENTAR AO TERROR E A VERGONHA

Enfrentar ao terror e a vergonha
escutando a música dos seus silêncios;
valorizar aos que desapareceram
porque tiveram a coragem de se opor,
superando a humilhação em vida
mesmo que própria vida lhes custasse;
levar luz aos que nada sabem
quer por submissão, ou covardia,
resgatando-os dos espaços invisíveis
valas de indigência de todos;
os povos devem enfrentar o futuro
fazendo as pazes consigo mesmo.

*Poemas do livro “Elocuencia de Silencios”. Tradução de Bianca Guzzo.