Cartas: de Jorge de Lima a Augusto Meyer

Jorge de Lima escreveu carta para Augusto Meyer pedindo para que lhe ajudasse na eleição da ABL

Jorge de Lima, apesar de ser um dos nomes mais importantes da literatura brasileira, nunca fez parte da Academia Brasileira de Letras. E, olha, não foi por falta de tentativas. Entre os anos de 1937 e 1945, o poeta alagoano teve a sua candidatura à ABL recusada por seis vezes. Em carta a Augusto Meyer (a quem ele chama de Méier), escrita a 08 de janeiro de 1937, ele pede para que o poeta gaúcho lhe ajude, dando  uma “forcinha” eleitoral para ganhar o voto do romancista Alcides Maia, que era membro da entidade desde 1913.

Jorge de Lima acreditava que e influência política de Meyer poderia ajudar a elegê-lo. Augusto Meyer, na época, trabalhava no Instituto Nacional do Livro, a convite do presidente Getúlio Vargas. Diferentemente do amigo alagoano, ele sim conseguiu ser eleito para a ABL, em 1967. Leia a carta na íntegra.

JORGE DE LIMA A AUGUSTO MEYER  – 08/01/1937

Meu caro Augusto Méier,

       nós fomos muito amigos. Uma bruta simpatia sempre me prendeu a você desde os tempos do modernismo. Seus livros continuam a ser meus livros de cabeceira. Mas de-repente você deixou de me enviar seus novos livros. Um dia telegrafei a você solicitando que você pedisse o voto de Alcides Maia para mim. Isso faz uns anos. Você não respondeu. Depois deu o excelente livro sobre Machado e não se lembrou de seu antigo fã. Fiquei puto da vida e prometi nunca mais lhe pedir nada. Hoje Zé Lins me mostrou uma carta sua em que há referências amigas à minha pessoa: então reflori. Então estou lhe escrevendo falando de-novo meu chodó pelo seu espírito. Mande seus últimos livros. Quanto ao voto de Alcides Maia, fico muito grato se você cavar. Creio que você cava pois se ele não tem compromisso nem com Barbosa, se já contentou Barbosa, se Barbosa já perdeu, que ele me deixe ganhar e me mande o seu honroso voto. Você diga a ele que a vaga é de poeta e que eu só de poesia já publiquei seis livros. Não é brinco! Alcides Maia é um homem inteligente e bem sabe que a Academia deve acolher para conseguir viver – os moços. Ultimamente uns certos novos conseguiram entrar e se outros novos forem forçando as portas da Academia, ela renascerá. O prestígio e o valor de um Alcides Maia e de outros bem poucos, ajudarão o voronofismo da Academia. Meu caro Augusto Méier você está pois nomeado meu cabo eleitoral junto ao Alcides Maia. Acho bom você dizer a ele que a acolhida que tenho tido é estupenda: conto pois ganhar. Zé Lins que tem acompanhado de perto o movimento para a minha eleição lhe escreverá a respeito da animação. Um dia irei ao Rio Grande: minha mulher é daí e eu gosto imensamente dessas terras onde o negrinho do pastoreiro é amigo íntimo do grande Augusto Méier!

Um abraço do Jorge de Lima. Não reli. Desculpe.

Jorge. 

 

*Carta inédita. Arquivo-Museu de Literatura Brasileira da Fundação Casa de Rui Barbosa.