Eu não preciso, para minhas viagens noturnas,
de navios, eu não preciso de trens.
A lua ilumina o jardim com-jeito-de-tabuleiro.
A janela está aberta. Estou pronto.

E com o silêncio de sempre — como um gato,
à noite, sobre uma cerca — através
do córrego na fronteira, sem passaporte, minha alma
pula para a outra margem, a russa.

Misterioso, leve, invulnerável,
eu deslizo por entre sucessivos muros,
e sob a luz da lua, o sonho passando veloz por ele,
o guarda da fronteira deveria vigiar, mas em vão.

Eu vôo pelos campos, danço através das florestas —
e quem saberá se neste vasto país
existirá um único ser vivo,
um único cidadão, feliz.

Ao longo do comprido cais o Neva rebrilha.
Tudo está quieto. Com um tardio transeunte
numa praça deserta, minha sombra se depara
e com sua própria fantasia o enfeitiça.

Agora me aproximo de uma construção estranha,
o lugar, em si, eu reconheço…
Lá, nos quartos escurecidos, tudo está mudado,
e tudo irrita a minha sombra.

Lá, crianças dormem. Sobre o canto das almofadas
eu me inclino, e elas começam a sonhar
com brinquedos com os quais, há muito tempo, eu brincava,
com meus navios, com meus trens.