Luís Amaro nasceu no dia 05 de maio de 1923, em Aljustrel, Portugal. Poeta, editora e bibliógrafo, fez parte do grupo que dirigiu a revista Árvore, entre 1951 e 1953, ao lado de António Ramos Rosa, Raúl de Carvalho, José Terra e Luís Moita. Editou a obra de José Régio, em 1954, pela Portugália Editora. EM 1993, recebeu o título de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique. Morreu a 24 de agosto de 2018, no Hospital Egas Moniz, em Lisboa, vítima de pneumonia.
DÁDIVA
Lá muito ao fundo
daquela estrada
uma luz cintila.
Será a vida?
A meio da noite
que existe, persiste
dentro de nós mesmos
uma luz cintila.
Densa névoa envolve
que noturna sombra?
Mas, pura, lá surge
a luz que cintila.
Tudo a vida nega
à sede antiga e ardente.
Só não se apaga nunca
a pequenina estrela.
CÁRCERE
Partir as algemas
que ponho a mim próprio
(mas sou eu que as ponho
ou o outro de mim?)
Sim, partir as algemas,
ser livre e autêntico!
Jamais querer mordaças
a esmagar-me nos lábios
a límpida canção que me seduz…
Ir além-mim!
Rasgar nevoeiros
e descobrir mundos
dentro do meu mundo,
e arrancar estrelas
humanas do meu peito!
BAIRRO
Em seu corpo enfim repousarei
das pedras ásperas
que mal sei pisar?
Das guerras, dos cilícios,
dos ecos a doerem nos ouvidos
como pedradas
e dos tédios que sangram?
Ah, finalmente
ao desfolhar seu corpo desfolhando
mas inda fresco e belo
a vida encontrarei?
*Poemas do livro “Diário Íntimo”, Editora Licorne. 2011.