Ive Lima nasceu em Salvador, Bahia, em 1973. Poeta e Educadora, possui dois livros publicados: “Entre versos e voos” (Absurtos, 2020) e “Espalha-Ventos” (Absurtos, 2024), além de participações em antologias nacionais. Faz parte do movimento LaB Poético, sob a coordenação do jornalista e poeta Igor Calazans. Publica seus poemas no perfil do instagram @amadora.ive.lima.

Timbre

A pele da tua voz
é seda vermelha
onde me deito
e me deleito
ao toque sutil
de cada acorde
que baila indecente,
flutua no teu ar
de boca carmim
com hálito de mar.
A pele de tua voz
é prateada de luz
feito rastro de lua
em noite escura.

Semideusa

Ela tem na perna
a árvore da vida.
E a vida flui por ela,
brota no sorriso,
ilumina o rosto.
Floresce no olhar doce,
no jeito de menina.
A lua ao longe
lança luz,
iluminando-a
languidamente.
Ela, sorridente,
suspira suave,
move-se sinuosamente.
Notívaga,
inunda-se de luar,
noite adentro,
entre delírios e devaneios.

*Poemas do livro “Entre Versos e Voos”, Absurtos Editora, 2023.

Aquereleu

Eu me fiz espalha-ventos,
A voz da vida veio veloz,
vendaval de cores e tons.

O uivo da urgência em viver,
meu grito, um espiral colorido,
ascende aos céus em giros.

O vermelho se fez clarão
alaranjou o azul celeste,
entardeceu em rosáceo lilás.

Amanheceu branco luz.

Eterno

Tão breve a vida
momento que se esvai
um pouco a cada dia

Tão breve a vida
no passar das horas
de repente o último suspiro

Tão breve a vida
o tempo da alma após o corpo
torna imortal a existência

Na eternidade não há tempo
Até breve!

Aguaceiro

Daqui de cima,
a chuva tem sua beleza.
Da minha janela,
vi as gotas rápidas,
fazendo do asfalto
uma noite estrelada.

Daqui de cima,
a chuva tem sua beleza.
Na minha janela,
fechei os olhos
e me invadiu a alma
o cheiro de terra molhada.

Daqui de cima,
a chuva tem sua beleza.
Além da minha janela,
réstias de sol prateiam o céu,
anunciam a estiada.

Truculência

Um homem de cara preta,
cabeça e alma brancas,
arma em punho ordena:
– Abre as pernas, desgraça!
O preto intimidado obedece,
conhece o poder da farda,
sabe que é seu igual em cor
e tão distante frente a frente!
Basta o título para negar a raiz.
O velho capitão do mato
caça e açoita seu irmão.
Outro preto grita à plateia
– Preto não vale nada!

E eu lembro Elza:
“A carne mais barata do mercado é a carne negra”

Ode a Odé

Ó guerreiro de Aruanda!
Que a tua lua clareie o breu.
Que não temamos os nossos dragões,
os que habitam as nossas trevas.
Que a tua flecha abra clarão
e transforme sombra em luz.
Que o dia se faça enfim, sob o teu brado.
Que o nosso caminho seja
a trilha aberta na mata
com teu arco certeiro.
Okê arô, Oxóssi!

*Poemas do livro “Espalha-ventos”, Absurtos Editora, 2024.