Nicholas Edward Cave nasceu em Warracknabeal, Austrália, no dia 22 de Setembro de 1957. Poeta, músico, compositor, escritor, argumentista e ator, é mais conhecido pelo seu trabalho no rock, com a banda “Nick Cave and the Bad Seeds”, onde explora temáticas como religião, morte, amor, América e violência. Com uma vida repleta de dramas e tragédias, Cave perdeu dois filhos dos quatros que teve em diferentes relações. Em julho de 2015, Arthur, com apenas 15 anos e sob efeito de LSD, morreu ao cair de um penhasco em Brighton, na Inglaterra. Mais recentemente, em 2022, Jethro, filho do cantor com Beau Lazenby, teria tirado a própria vida aos 31 anos. Cave morou no Brasil, em São Paulo, entre 1990 e 1993 e tem um filho brasileiro, chamado Luke.
Austin
Texas
*
O artista verdadeiro é o sonho mais caro!
O artista da carniça é o pesadelo contratual!
O artista verdadeiro está no presente e é do presente!
O artista da carniça vive na memória e na história!
Los Angeles
Califórnia
por fim, todos passaram a residir em mim.
Enquanto fico em pé, na beirada da cama king-size,
No Sunset Marquis, em West Hollywood,
Feito um pequeno deus ereto,
Meu coração está amarrado aos trilhos de um trem estridente.
À minha esquerda, um sombrio pilar de concreto,
À minha direita, os galhos letais de uma árvore meio derrubada.
Você se deita pelado e parcialmente submerso
Na água enlamaçada abaixo, relaxadamente folheando
Um manual motivacional.
Por fim, todos passaram a residir em mim.
Sou uma casa mal-assombrada uivando e chiando
Com lembranças.
Camas balançam e as portas dos gabinetes se abrem sozinhas,
E cadeiras se empilham e reempilham sozinhas.
Jatos de ectoplasma que jorram pelo ar.
Meus intestinos se contorcem com o som
Das correntes tilintantes.
Você coloca o livro de um lado e levanta seu machucado.
Você geme e descarrega um raio de tensão ferina que estala
Seus braços e suas pernas para trás,
Sua garganta dolorosamente revirada,
Esticando e abrindo ao meio sua língua ondulante
De animal preto em direção a mim, através da luz alaranjada.
Digo –
Eu desci das colinas,
Eu atravessei rios e montanhas,
Eu viajei por longas rodovias,
Eu penetrei na úmida e sombria fortaleza,
Para estar com você nesta noite.
Eu sou o veículo no qual você escolheu entrar e sair.
Você é branca como uma gota de neve no sol da manhã.
Eu formo uma sombra gigante contra o céu.
Feito uma divindade em miniatura, olho para a água marrom.
Eu deslizo minhas pequenas canções por baixo de você,
Sou um pequeno deus rastejando por um mundo gigantesco.
Tornando-me um deus inflado, rastejando ao redor de um mundo
pequeno.
Revela-se, meu bem!
Somos saltadores luminosos, todos nós, aqui, nesta cama, hoje à
noite.
Juntos, estamos fazendo nosso amanhã diferente.
Milwaukee
Wisconsin
*
Resista ao impulso de criar.
Resista à crença no absurdo.
Resista por meio da provocação.
Resista por meio da doença e da tristeza.
Resista por meio da masturbação.
Resista por manuais motivacionais.
Resista por fazer pelos outros.
Resista por comparação a outros.
Resista através das opiniões dos outros.
Estes são Os Nove Sabotadores do Crescimento. Eles vivem no nosso
sangue e nos nossos nervos. Eles são tão presentes e cataclísmicos
para o nosso progresso quanto um trem de fuga em disparada
em nossa direção, enquanto permanecemos postados nos
trilhos, rígidos de medo.
As entranhas gotejantes do meu saco para enjoo
Levaram estrelas e listras
Através do chão de serragem dos EUA. Mas escute!
O que é aquele doce sopro ao pé do meu ouvido, ouço você dizer?
São as musas e Johnny Cash nos assoprando pelo caminho.
*Poemas do livro “The Sick Bag – Song”, editora Terreno Estranho, 2015.
Tradução de Carlos Messias.