Upile Chisala nasceu em Zomba, no Malawi, em 1994. Poeta, escritora, socióloga e ativista dos direitos humanos, é graduada na Universidade de Oxford, na Inglaterra. Atualmente reside em Joanesburgo, na África do Sul. Seus poemas são caracterizados pela concisão e têm atraído um número cada vez maior de leitores pelo mundo todo.  Upile Chisala fala sobre o que é ser negra e mulher e sobre como, num mundo de dor, preconceitos e obstáculos, amar e cuidar de si mesma é um ato de coragem.

*

Você nasceu equilibrando línguas
em sua língua.
Sua família está vivendo muito longe,
sob o mesmo teto,
brigando por causa do sangue.
Querida,
onde quer que você se encontre,
você é estrangeira.

*

Antes que seus quadris aparecessem
ensinaram você
a ser uma mulher
e
que tipo de mulher ser.

*

Sou imperfeita.
No entanto, eu tenho valor.
Não entanto, eu tenho poder.

No entanto, eu mereço coisas boas.

*

Confie em mim,
Eu sei como consertar a mim mesma
como reparar
e queimar
e torcer
e moldar.
Eu sei como fazer algo novo de mim mesma,
então não fique comigo por pena,
deixe-me quebrar
e encontrarei meu próprio caminho de volta à inteireza.

*

Eu não peço desculpas por não podermos mais dividir o mesmo teto,
sem que as paredes se espessem,
sem suar nos móveis.
Querido,
nós criamos todo esse ardor entre nós.
Nós costumávamos arder um pelo outro,
lembra?

*

Talvez este seja todo o começo de que você precisa,
apesar de mal composto,
feito com mãos nuas,
transmitindo muitas e muitas vezes.
Ainda assim é um começo, querida,
e você lutou por isso.

*

Agora que conheço
a magia suave da sua risada
e como o seu corpo se move como arte,
por que eu voltaria atrás?
O que havia antes de você?

*Poemas do livro “eu destilo melanina e mel”, Editora LeYa, 2020.