Rubermária Sperandio nasceu a 24 de dezembro, em Minas Gerais. Criada em Jauru, Mato Grosso, mora há cinco anos no Rio de Janeiro. Formada em Comunicação Social e mestre em Mídia, Política e Cultura pela UFMT, foi professora, assessora parlamentar e de comunicação em Mato Grosso. Trabalha atualmente como preparadora de originais de literatura e de textos acadêmicos. Tem diversos contos e poemas publicados em revistas e antologias. Publicou em março de 2019 o livro de poemas Matrioskas.

Natimorto

No ventre da mãe,
cabeça encaixada a espera
de mais um golpe certeiro
— o metal na mira.

Vai ser a fórceps
para não acontecer o pior;
— a morte do pai.
Seu gozo garantido.

Céu riscado de fogo.
Chuva de sangue.
Mar vermelho a seguir,
nado morto costumeiro.
(nascer é um risco de morte)

Saída apertada

Tem um monstro que, de vez em quando,
habita minha casa.
Ocupa todos os espaços de minhas entranhas,
um estranho.
Aperta, anseia, abisma-me,
quer me devorar.
Tenho escapado
pelo buraco da fechadura.

Matrioskas

Pra não romper nas nervuras,
facilitar o entalhe,
secar sem se entortar,
é preciso escolher a madeira certa.

Depois, faz-se um buraco nela.
“Vai doer!”
Ainda dói
o miolo estripado.

No seu oco
coloca-se a outra
feita à sua semelhança;
cópia da cópia.

Para animar mais o artesão,
cores alegres e divertidas.
Verniz contra o gelo
pra ela não desmaiar.

Assim são espalhadas pelo mundo,
em diferentes cores e fantasias.
Mães e filhas, bonecas
fazendo a festa do artífice.

E lá dentro da matriosca,
mulheres diminuídas.
Mas tudo tem um fim.
A última será a inteira.

*Do livro “MATRIOSKAS”, Editora BesouroBox, 2018.