Diane di Prima nasceu no dia 6 de agosto de 1934, em Nova Iorque, Estados Unidos. Poeta, escritora e artista, fez parte da Geração Beat, sendo uma das mais ativas vozes feministas do movimento nas lutas pelos direitos das mulheres e também contra a gordofobia. Escreveu mais de 40 livros, iniciando sua trajetória na poesia aos 14 anos. Interessada e estudiosa, aos 19 anos passou trocar cartas com Ezra Pound, antes de publicar sua primeira obra, intitulada “This Kind of Bird Flies Backward”, em 1958. Esse volume foi considerado um dos marcos iniciais para os beats, ao lado das obras de nomes como Jack Kerouac e Allen Ginsberg. Nesse período, Diane foi várias vezes acusada de obscenidade pelo governo estadunidense, e chegou a ser presa pelo, em 1961, por publicar dois poemas eróticos. Diane di Prima faleceu em 25 de outubro de 2020, aos 86 anos, após quase uma década lutando contra a doença de Parkinson.


CANÇÃO PARA MEU BEBEZINHO, POR NASCER

Querido,
quando você irromper
você encontrará
uma poeta aqui
nada que alguém escolheria.

não prometo
que você nunca vai passar fome
ou que não se sentirá triste
neste mundo
desentranhado
rompido.

mas posso te mostrar
meu bebê
amor o suficiente
pra partir seu coração
pra sempre

PARA O MEU PAI

Nos meus sonhos você fica entre as rosas.
Segue o grande jardineiro de sempre.
Teme pela minha mãe.
Segue o vento feroz, a força intolerável
que quase me quebrou.
Que enfiou meu pequeno corpo em roupas incômodas e adequadas.
Que falava do seu prestígio na comunidade.
E o toque dos homens ainda me é um tanto absurdo
porque você tremia ao me tocar.
Que lei externa você estava explicando?
Como posso tomar seu nome por uma prece?
Meu filho mais novo tem seus olhos.
Por que você está batendo nas portas do meu cérebro?
Você manteve todas as regras deles e mais.
O que te foi prometido que não te deixa descansar?
Que feroz, brava honestidade na escuridão?
O que espera você que preferiu minha morte
ao nascimento da minha filha mais velha?
Ah, o zunido feroz das melodias
Esqueça, coma o bolo de sementes pretas.
Nos meus sonhos você fica à porta da sua casa
E chora pela sua esposa, minha mãe

MENSTRUAÇÃO, SETEMBRO DE 1964

Como perdoá-lo por esse sangue?
Que não deveria correr outra vez, mas agarra-se feliz ao meu útero
para crescer, e virar um filho?

Quando me aproximo da noite, você suspira, e vira para o lado
Quando  me aproximo de tarde, na nossa cama,
Onde você fica lendo, você me afasta dizendo
Que faz calor, que está cansado.

Você protesta, você fala de violência, você tira sangue
mas só o meu, infértil & faminto sangue
que deveria ser outra coisa.

CARTA REVOLUCIONÁRIA #2

O valor da vida individual um lema ensinado
pra nos incutir medo, e inação, “você só vive uma vez”
névoa em nossos olhos, nós somos
infinitos feito o mar, inseparáveis, morremos
um milhão de vezes ao dia, nascemos
um milhão de vezes, vida e morte a cada sopro:
levante-se, calce os seus sapatos,
comece, alguém vai terminar

Tribo
um organismo, uma carne, soprando alegria como as estrelas
sopram em nós o destino
continue, dê as mãos, se encarregue do negócio, milhares de filhos
cuidarão disso quando você cair, você crescerá
milhares de vezes no ventre de suas irmãs.

POEMAS MAIS OU MENOS DE AMOR

*
É aquilo foi
coisa de uma vez na vida
baby

você tem que estar limpo e
de sapatos novos
para amar como eu te amei

acho que isso não se repete

*Poemas do livro “Poemas Mais ou Menos de Amor e Outros Poemas”, Editora Jabuticaba, 2022.
Tradução de Fernanda Morse.