Javier Bozalongo nasceu em Tarragona, Espanha, no de 1961. Poeta e escritor, publicou mais de uma dúzia de livros, incluindo o conto coleção “Todo mundo estava vivo” e as coleções de poesia “Nostalgia Líquida (2001), Até chegarmos Aqui” (2005), “Jornada Improvável” (2008), “A Casa no Escuro” (2009), “Todas as Chuvas São Iguais
Tempestade” (2018), “Este País” (2019), “Tudo é Chance” (2021) e “Nomeando a Ferida” (2022). Ganhou o Prêmio Surcos de Poesia, com “Viagem Improvável”, em 2022, e também o Prêmio de Poesia Blás de Otero. Ainda foi finalista dos Prêmios Internacional de Poesia Jaime Gil de Biedma e Andaluzia de la Crítica, entre outras homenagens. Atualmente mora em Granada, Espanha.
OURO
Rebuscamos entre o inverossímil
a imediatez do certeiro
em desastrosa perseguição do impossível.
Erramos.
Buscamos na areia
a verdade que se esconde,
seguros de encontrar
por trás das aparência
aquilo que a luz
– peneira ocasional –
separa e nos reserva.
CIDADE SEM MEMÓRIA
Conheces a cidade? Visitei faz tempo.
Te acompanhava um jovem poeta equilibrista
que logo perdeu pé na corda bamba
desmoronando sua idade sobre a rede,
segurança perversa.
Reconhece suas ruas? Nelas os perderam
perseguindo os versos escapados do sonho
aquele jovem e você, única sombra
pela lembrança projetada,
luz mentirosa.
Recordas a estação? Um trem esgotado
com vagões repletos os deixou,
nos anos oitenta,
encalhados em metade de uma miragem,
falsa promessa.
MEU SONHO É UM AVIÃO
Meu sonho é um avião
de poucas praças
e nele viajo sozinho
com pouca bagagem.
Depois de algumas horas
uma praia vazia;
na sombra, uma mesa
com frutas e bebidas.
Ao fundo, do mar,
um único banhista
me convida para me refrescar.
Mergulho na água
com pressa e pouco tempo
de saber o final.
DESEMBARCAMOS
Desembarcamos, os navegantes desnorteados
com a pele queimada por um sol estrangeiro.
A humidade nos rodeia e faz de cada poro
um ninho oxidado.
Este tempo de ferrugem faz feliz o náufrago.
Ilhas multiplicadas
converteram o mar em um campo de iguais.
*Poemas do livro “Viagem Improvável”, Editorial Renacimiento, 2008.
Tradução para o Recanto do Poeta de Igor Calazans.