Jorge Emil nasceu em Caratinga, Minas Gerais, em 1970. Poeta, ator e revisor de texto, formou-se pelo Teatro Universitário da UFMG e já participou de diversos espetáculos e filmes. Tem três livros publicados: O dia múltiplo (2000), Pequeno arsenal (2004) e “O olho itinerante” (2012) e o infanto-juvenil “A volta do garoto” (2014, pela editora Peirópolis). Também trabalhou como revisor de texto na revista cultural “Palavra”, dirigida por Ziraldo (1999-2000), e na revista de divulgação científica da Fapemig, “Minas Faz Ciência” (2000-2005). Foi responsável pela revisão de todos os relatórios da SP Escola de Teatro entre 2009 e 2015. Revisou a obra — poética e em prosa — de Adélia Prado quando a editora Record republicou todos os títulos da autora, a partir de 2003. Atualmente é revisor das matérias do jornal “The New York Times” traduzidas para o português.

ÍNSULA

Sou uma ilha com oceanos pra todos os danos.
Pródiga de mares os piores.
Com coqueiros falsos (só um verdadeiro)
Ilha por azar isolada na qual só há
sol. Sol + nada. Sou ilha deserta
e esta ilha é, na certa, repleta de brados
(brados não ouvidos) por todos os lados.

AMEAÇA

A paciência que se perde e que não volta.
Inocência era verde, madurou, sumiu.
Mortinhos os poetas de que gostas.
Gente sumida, nunca mais, animais
de estimação, silêncios
atrás de portas. Só os teus gritos
– a um tempo longínquos e horrendos –
continuam sendo, encerrados no sótão.
Se eu abrir,
eles voltam.

A PRIMEIRA FEBRE

Tentei me desviar para que o teu olhar
parasse de queimar a minha contenção.
Pensei no meu sustento e mais no meu espanto
e o encantamento não sumiu, no entanto.
Pensei nas minhas contas mais no mundo-cão
com seu olhar de monstro em minha direção.
Nenhum mau pensamento – a dívida, o pranto,
a dúvida, o quebranto – quebrou o momento.
Pesei ponto por ponto e tudo estava bom.
E meu olhar de tonto em tua direção.

O PONTO

Se você disser de si para si que só quer
se dissipar, se dissolver, se salvar,
analise o meu caso
(o acaso há?):
de minuto em minuto diminuo…
e só no ponto que não se vê
é que me encontro em sol crescente
e posso rapidamente ser.

*Poemas do livro “O dia múltiplo”, Editora Bom Texto, 2000.