Luís Serguilha nasceu em Vila Nova de Famalicão, Portugal, no ano de 1966. Poeta, crítico, ensaísta e curador de arte ibero-afro-americana. Criador da estética do “Laharismo”, estudada em Universidades. Percorreu nos últimos países da América do Sul, radicando-se no Recife. Recebeu os prémios de literatura Júlio Brandão e Hermilo Borba Filho.
LAHAR XXXI
O esplendor vulcânico da língua abre-se desordenadamente
. ao diamante transitório da ilha implacável
. e as fibras desconhecidas do incêndio percorrem a casa
argêntea das coxas insaciáveis
. aglomerando os adoradores das hibernações
na cirurgia fulgurante da salsa
. Os archotes pioneiros estrangulam as civilizações originais
dos signos ao galoparem nas raras proximidades das guitarras
tropicais
. O atrevimento ilustrado das gaivotas surpreende as
madrugadas intermináveis dos comboios atlânticos
. como os pianos íngremes dos
veleiros cheios de morfina a inventarem corações de maracujás
. sobre as cartas desfeitas no esplendor do cais
. Nos remansos orgásticos do teu corpo os arpões periódicos
do orvalho transformam harmoniosamente
. as pontas insondáveis das parábolas
. que impulsionam os lençóis itinerantes da escrita
. onde as reconquistas
falésias distinguem os suicídios dos pilares solares
. entre as antiquíssimas litanias dos partos dos vendavais
LAHAR XXXIV
. Os torniquetes incorruptíveis dos poentes molham
os engenhos engomados da primavera
. como o fogo extremo dos tambores a reproduzir
descompassadamente o afrontamento dos arqueiros na
meteorologia dos pássaros
. Os insetos côncavos das águas adornam a imobilidade
das efígies ao delimitarem as coronhas de sol nos capilares das
turbinas em translação
. como os círculos debulhadores dos
carreiros aflitos a respirarem os puzzles das lâmpadas
. para extraírem os trilhos das crisálidas dos tesouros das elipses
. são apenas as cúpulas bamboleantes
dos dedos a desnatarem os cristais incertos das manjedouras
. já subterrâneas
. aqui a caruma congestionada das significações acetina
as bátegas dos fósseis que renovam as ilhargas das quilhas
. para se altearem incorruptivelmente
. entre a frágil sabedoria dos vedores da claridade
LAHAR XXXV
. Os nervos elípticos das metáforas desatam as bússolas
sulfatadas das periféricas emigrações-paraísos
. onde as insígnias dos comedores de planetas congestionam
os ciclos descoloridos dos úteros
. para constelarem uma golfada de silêncio nos artelhos
renascidos sobre os cios mecânicos das fronteiras
.que possibilitaram aos sulcos figurativos das enlouquecidas bocas
. uma habitação de espécie solares
As ressonâncias da língua-sandália declinam-se perdidamente
. sobre as técnicas implacáveis das luxuriantes
cicatrizes para preservarem as túrgidas vasilhas da luminosidade
. que empubesce as invasoras dinastias dos signos
. As cortesãs geométricas dos ancoradouros
retomam os resquícios imortais do bosque muscular
. onde um farol vocálico inaugura a pulsação das fábulas
. entre o abandono sonâmbulo dum alfabeto terrestre
LAHAR XVII
Revelamos duplamente o império acromático dos calores
noturnos
. entre a paulada silenciosa das línguas
. como um murmúrio do elemento nativo a esbarrar na
aparição calcinada do pequeníssimo rio
. Uma configuração de relâmpagos nutritivos é decisiva
. para representar a pureza azul da centrifugação incessante
sobre as inexploradas sonoridades dos nenúfares ascensionais
. As lantejoulas sólidas das formigas elaboram a vaidade
planetária da gelosia
. onde o alvoroço navegador das cerejas
alcança a bissectriz de estarmos perto
. como se interpretássemos os projetores pacíficos
da desconexão
. sobre o arrazoamento das mandíbulas primaveris
. Os testamentos enciclopédicos das harmônicas
. são lentamente incendiados
pelas contingências inexplicáveis dos pássaros
. e as estalajadeiras mediadoras aventuram-se
nas titilações entusiasmadas das aromáticas regatas
. aqui os mecanismos dos figurinos das cartografias simbolizam
. as galáxias coadas na transumância das coxas-dorsos-mãos-
bocas-pélvis – chupa-flor desvairado nas colônias da claridade
*Poemas do livro “KOA’E”, Anome Livros, 2011.