Nuria Mezquita de Haro nasceu em Sevilha, Espanha, no de 1976. Licenciada em Comunicação Audiovisual, ela coordena o projeto “Cangrejo Pistolero Ediciones”, junto com Antonio G. Villarán, onde publicou o seu primeiro poemário “Sienes de Amor”. Atualmente participa de recitais de “Perfopoesia” em diversos festivais.
EPÍLOGO
Desde o ponto e o seguinte
ainda intuo vulcões de papel e caneta,
sem esquecer os excessos,
a Frida,
e todos os disparos de gelatina
que perfuraram minhas têmporas,
– aquelas de papelão úmido e retorcido -.
Ainda assim,
me sobra o oxigênio da palavra,
as notas de metal e prata,
o baile do futuro encontrado.
O DOM
Encontrei a pérola.
A engoli
e ela renasceu negra,
mais valiosa
com mais memória,
cruel
harpia
daninha
sabia.
Com mais poder,
pegajosa
rasteira
cega.
Com mais dor,
ancorada
vazia.
Com mais gana, estéril,
falsa
pérola.
RAZÕES
Não é que ignoro as dúvidas
nem que as casas sejam mais altas
nem que os céus tenham perdido a cor dos Simpsons
nem que os ruídos sejam mais fortes.
É que já não gosto mais dos teus gestos de menino elegante
nem das conversas políticas do lado dos bons
nem das poses de tuas amigas adictas ao Nestea
nem das calcinhas de purpurina para minha Santa
nem o dinheiro da tua puta mãe
nem os presentes dos teus irmãos tiranos
nem a coca cola depois do cinema
nem teus beijos de amante dedicado.
Já não me colocam os punhos
nem as piscadelas nos espelhos
nem os sexos matinais
nem os almoços às cinco da tarde
nem os cabelos na pia
nem os peidos de madrugada
nem as brincadeiras das oito da manhã
Já não me colocam.
Já não me colocam.
E já não me colocam.
DESTERRO PLANEJADO
Há uma praga de gafanhotos nesta sala,
disposta a foder-me a vida durante todo o verão.
Não há inseticidas suficientes,
nem suficiente calma para matá-las,
porque se instalaram conscientemente,
trazem uma tenda,
gás de acampamento,
e bronzeador para sete sóis…
Me chamam por meu nome
e me insultam em nome do meu pai…
Sabem bem o que fazem
e não sairão até que eu dê o passo,
não sairão até que lhes cheguem
um cheiro definitivo de desterro.
*Poemas do livro “Sienes de Amor”, Cangrejo Pistolero Ediciones, 2024.
Tradução de Igor Calazans para o Recanto do Poeta.