Naila Rachid, nasceu no Rio de Janeiro. Poeta, médica e psicanalista, venceu, em 1991, o Prêmio Carlos Drummond de Andrade, com o livro “Sedo de Futuro Tecido”. Ligada às diferentes expressões artísticas, trabalhou a linguagem poética, tanto na escrita, como na fotografia e no teatro. Realizou, com retratos de Marcos Bonisson, uma montagem fotopoética chamada “Kino Móbile”. Sua obra apresenta uma matéria densa, cheia de lirismos e teatralidade, tecida por palavras sonoras e imagens de tensão.
cálice de nuvens
sem medo penetrar
trevas veludo
. súbito abstrair
entre-tactos-
. ato de gala paixão
mina júbilo mina
– salve! prata rainha
transir sem medo
aturdida textura
. exaspera
louvado risco grão rubi
– brio doravante sibila
relampos pactos
. vis-à-vis
golpe de graça
estarrecido
. um ser radar
quando desdito mundo
não para de proclamar
. o rosto do dinheiro
. de cada um
. o rosto indecifrado
qual mundo simulacro
não para de incitar
. as amarras do circo
. de cada um
. súbditas amarras
quem – ventania vem
e arranca
. piedade nenhuma
viço-versa
. – não para
à toda decisivo
. radar
. ser o mundo entorno
. abala
. inconfidentes verdades
flagrante me desalinha
no retrato de aguda metrópole
um enigma e sua repetição
de um dia – prefigura
revoluto anel das palavras
de inopino
. jaspe centelha desfere
. estrelante a imagem
corre veloz para o
cume da memória que
brinca para romper
. no instantâneo a linha
. do horizonte sob
. a marcha de dados
pérola sentença
atrelada beleza
qual vento embaraça
braço ponte vírgula
virgo império bel prazer
qual sonho deslinda
esquisito semblante agulha
luxúria argos signo
atrelada beleza
qual espírito inventa
*Poemas do livro “n’agorainda”, Editora Circuito, 2014.