Rolando Cárdenas Vera nasceu em Punta Arenas, no Chile, a 23 de maio de 1933.  Poeta ligado à “Geração de 50” chilena  a sua obra está associada às suas vivências em Magalhães, onde viveu até os 22 anos. Em meados da década de 1960, passou a ser reconhecido pelos seus contemporâneos, com quem manteve um intercâmbio criativo, partilhando vários encontros literários, frequentando locais como a Sociedade de Escritores do Chile e o bar La Unión Chica, onde se reuniram numerosos escritores e poetas. Após o golpe de Estado de 1973, Rolando Cárdenas foi preso e detido no Estádio do Chile. Rolando Cárdenas faleceu no dia 17 de outubro de 1990, em Santiago do Chile.

OS CAMINHOS SE AFASTAM

Os caminhos se afastam emudecidos.
São como um rio surdo na paisagem,
águas que nunca refletirão empoeirados verões.

A cidade quer fugir
para aldeias imóveis.
É a chave encantada
que sempre tivemos sonhado ter
para descobrir onde se perdem.

Os caminhos permanecem.
Apenas esperam as estações
que cruzam como rebanho de potros,
ou como esses fantasmas de ovelhas
sepultados na neve
que vagam com pinheiros irreais.

Os caminhos se afastam.
Fica o desejo secreto de partir.
Todos se conduzem noite adentro.
Se bifurcam como os sonhos
mais lá do sul e da dimensão de seus céus,
onde a terra esquecida se fragmenta
e apenas o ar é duro e intocável.

O MAIS VASTO

A troca
é o mais caro de nossas mansões incertas,
limites surgidos
para precipitados reinos de amanhã
que nunca serão descritos
nem nos mais fechados portões,
o mais vasto que chegou o relâmpago
e o ponto do epicentro
aos despossuídos,
que sempre
cantaram loas para suas violetas preferidas
e seus codornizes de todos os dias.

PESAS SOBRE MEU CORAÇÃO

A queimadura está em teus mares
sobre suas curvas modeladas
que pesam sobre o meu coração
todas as noites
de embarcações, equipamentos e extravios.
Não eras a dócil onda em seu poder.
Armadura de redes luminosas
poção de oferendas ocultas e oceânicas.

SIGNOS VISÍVEIS

De dento da distância
regressaremos em direção aos frutos
guardados em um rincão propício.
Nada muda na casa.
O sol lança a sua luz todos os dias,
sempre uma nova pele ao toque.
Mensageiro de boas notícias, vai e vem
e fica dormido em seu ritmo,
em suas dobras mais profundas
para proteger o sonho intocado de seus seres.

Somos moradores de sua presença,
uma lembrança de terra ou madeira molhada
povoados de sua fertilidade
vigília para regiões e rumores de árvores noturnas.

Mas um signo visível é a ausência.
Em teu novo lar,
és o alimento.

*Poemas do livro “Obra Completa”, Ediciones La Gota Pura, 1994.
Tradução de Igor Calazans para o RecantodoPoeta.com