Amanda Gorman nasceu em Los Angeles, Califórnia, Estados Unidos, a 7 de março de 1998. Poeta e ativista, ficou conhecida mundialmente por recitar o seu poema “The Hill We Climb” na posse do presidente Joe Biden em janeiro de 2021. Primeira escritora a ganhar o Prêmio “National Youth Poet Laureate”, em 2017, sua obra enfoca questões de opressão, feminismo, raça e marginalização, assim como a diáspora africana. Atualmente, Amanda Gorman é a fundadora da organização sem fins lucrativos “One Pen One Page”, que dirige um programa de redação e liderança para jovens em seu país.
VIDA
A vida não é o que prometeram,
Mas aquilo que buscamos.
Estes ossos, não os achados,
Mas aqueles pelos quais lutamos.
Nossa verdade, não a que foi dita,
Mas a que pensamos.
Nossa lições, as que aprendemos
& as que trazemos conosco.
BÚSSOLA
Este ano do tamanho de um mar
Revirado de enjoo.
Como uma página, somos legíveis somente
Quando nos abrimos uns para os outros.
Pois o que é um livro
Senão antes de tudo um corpo,
Que espera e deseja –
Que anseia estar inteiro,
Cheio de si. Este livro está cheio
De nós. O passado é um
Déjà vu apaixonado,
Uma cena que já vimos.
Nas formas da história, encontramos nossos rostos,
Reconhecidos, mas não lembrados,
Familiares, porém esquecidos.
Por favor.
Não nos pergunte quem somos.
A parte mais difícil do luto
É dar-lhe um nome.
A dor nos separa,
Como lábios prestes a falar.
Sem linguagem nada pode viver
De fato, muito menos
Ir além de si mesmo.
Perdidos como nos sentimos, não há melhor
Bússola que a compaixão.
Nós nos encontramos não ao ser
Os mais vistos, mas os que mais veem.
Observamos um bebê
Dar seus primeiros passos sozinhos na grama morna,
Sem fugir, apenas correndo, como fazem os rios,
Pois essa é sua natureza livre.
Sorrimos, nosso rosto inteiro se ilumina
Com essa simples coisa deslumbrante.
Como é possível não termos mudado?
O BOM LUTO
A origem da palavra trauma
Não é só “ferida”, mas “perfurar” ou “virar”,
Como as lâminas fazem quando encontram um lar.
O luto tem sua própria gramática,
Estruturada pela intimidade & pela imaginação.
É comum dizermos:
O luto nos aproxima de quem somos.
Nós mal conseguimos imaginar.
Isso significa que a angústia nos estimula a antever
Mais do que nos sentimos capazes de carregar
Ou suportar.
Ou seja, de fato existe
Um luto bom.
É através da dor que sabemos
Que estamos vivos & despertos;
Ela nos liberta para todas as primorosas
E excruciantes enormidades do porvir.
Somos perfurados pelo movimento que nos leva
Adiante.
Tudo que está sepultado não precisa
Ser um fardo, uma aflição.
Em vez disso chame de âncora.
NÃO HÁ PODER COMO O LAR
Estávamos cansados de casa,
O lar nos dava náusea.
Aquela máscara no rosto
Aos poucos cobriu o ano todo.
Assim que chegávamos em casa,
Nós víamos arfando, ar-
rancando a máscara como quem tira uma atadura,
Como algo que restringia
A imensidão da nossa boca aberta.
Mesmo sem rosto, um sorriso ainda pode
Subir pela bochecha,
Um osso por vez,
Nossos olhos se enrugam
Delicados feito papel de arroz
Diante de outra beleza igualmente frágil:
O ganido triste de um cão,
Um esquilo que se arrisca a chegar mais perto,
A cadência de quem amamos contando uma piada.
Nossa máscara não é um véu, mas uma visão.
O que somos, se não o que vemos nos outros?
[NOSSOS]
Com o devido respeito
Aos negros –
Ao pai ceifador.
Não venha buscá-los.
Essa é a nossa opinião –
Como lhe foi dado
Pela vontade, pelo verbo.
Todos os negros considerados Dívidas,
Parte daquilo a que temos direito.
Um tipo de resfriado epidêmico
Afetou todos os negócios &
Afetou nossa saúde geral,
Nós nos recuperamos,
A incisão provocada
Por esse abcesso
Foi curada.
Que estejamos juntos em todo o bem.
*Poemas do livro “Seremos Chamados Pelos Que Levamos”, Editora Intrínseca, 2021.
Tradução de Stephanie Borges