Ruben Vela nasceu a 3 de maio de 1929, em Santa Fé, Argentina. Identificado com a “Geração de 50” e do Movimento “Poesia Buenos Aires”, tornou-se um dos mais importantes nomes da sua época na literatura latino-americana. Em 1979, radicou-se em Brasília, quando conviveu com grandes poetas brasileiros, como Carlos Drummond de Andrade. Voltou para o seu país na década de 80 e foi eleito Presidente da Sociedade Argentina de Escritores, durante 1987-89. Faleceu em 29 de abril de 2018, em Buenos Aires.

Arte Poética

A palavra
sempre
receosa
do traje
de gala
sobre sua
nudez
magnífica

Maneiras de Lutar

Que não me digam
que escrevem simplesmente,
que dizem o poema
sem pensá-lo sequer.
Que ele nasce sem mais nem menos.

É um árduo trabalho,
um ofício de ferreiros,
um fazer proletário,
Um cansaço que continuará amanhã.

Que não me digam
que se fazem poemas sem suores,
sem uma longa e violenta jornada de trabalho.
Tenho as mãos como as de um lavrador,
duras, gastas, cheias de poemas.

2 Poemas com Sede

I

O homem sem palavras para dizer
o homem da obscuridade
o homem que não dá filhos
o viúvo do amor e da alegria
o convidado final.

Que faremos com ele?
Como lutaremos contra ele?

O homem que não tem sede
que não tem sede, que não tem sede!

II

Estava cansado de escutar
gente de paz, gente de paz!
Mas não o diziam eles
diziam-no os outros
aqueles escudados em sua gordura
pavões reais de cidade
que manejavam o mundo
com as campainhas ocultas de seus escritórios.
Campainhas que provocavam a guerra
campainhas que assinavam a paz
mas o homem, deus meus, o homem!
campainhas que ordenavam à gente de paz
devorar-se uns aos outros, sem paz.

Envio

Certifico que esquecemos o mistério do dia natural,
sua claridade precursora dos grandes
acontecimentos;
sua antecipação do fim quando a tarde rememora
as eternas dúvidas;
um arquivo, uma enumeração de procedências
nos contém.

É inútil igualar situações
com máquinas de escrever e fixos caminhos
marginais,
com carbonos que iniciam o arremedo de toscas
atitudes,
porque apesar das recomendações
tão especialmente desnecessárias dos diretores,
sempre existirá um degrau onde apoiar os sonhos
e onde o homem reclame
sua verdadeira identidade.

*Do livro “Poemas”, Primeiro Prêmio “Cidade Buenos Aires”, 1972.
Tradução de Bella Jozef e Lélia Coelho Frota