Jorge Ventura nasceu no dia 25 de outubro de 1962, no Rio de Janeiro. É poeta, escritor, roteirista de história em quadrinhos, editor, ator, jornalista e publicitário. Autor de 10 livros, incluindo um E-book, em coautoria, sua obra também pode ser encontrada em dezenas de coletâneas nacionais e estrangeiras. Alguns dos seus poemas foram vertidos para os idiomas inglês, francês, espanhol, italiano e grego. Detentor de diversos prêmios como autor e intérprete, é presidente da APPERJ (Associação Profissional de Poetas no Estado do Rio de Janeiro), membro da UBE – RJ (União Brasileira de Escritores) e um dos integrantes do grupo Poesia Simplesmente. Também faz parte da SBPA (Sociedade Brasileira dos Poetas Aldravianistas), diretor-presidente da Ventura Editora, e sócio-diretor da CQi (Companhia de Quadrinhos Independentes).
Feminicídio
a barba
a lâmina
o creme
ele ao espelho
e sua cara-metade
às costas refletida
a barba
a lâmina
o creme
afeita-se a verdade
na pele sensível
desliza entrecortada
a palavra traição
o fio encravado
o fio amolado
entre espuma e sangue
a barba
a lâmina
o crime
Estante
eram festas e vitórias
mil glórias de um campeão
entre um turbilhão de fãs
manhãs de frutas e autógrafos
todo um tempo de apogeu
um prazo que se expirou
corro os olhos para a estante
os prêmios do que ficou
e aqui restam os troféus
no lugar das entrevistas
brilha o ouro da saudade
pelo pó do esquecimento
Ele
é ele
o miserável da tarde
o covarde baldio
antes do sepulcro
é ele
o descartável da vida
sobre a pedra vadia
eleita seu fulcro
é ele
a refutável existência
o louco da silva
fartado de sonhos
é ele
a adorável vítima
marginal enigma
de final tristonho
é ele
a aplacável glória
vilão da história
inocente e absorto
é ele
o memorável homem
ante a face do espelho
a refletir o morto
Crueza
sou língua de sal
não poupo palavras
em mim nenhum deus
em mim só um homem
que peca e execra
e desfeito em dores
sobrevive a quedas
sem nenhum pudor
à sorte me atrevo
só creio em meus atos
vejo o que não devo:
o osso em vez da carne
Engasgo
nas barracas da feira
sempre me causa espanto
o olhar de um peixe morto
me inquieta o implausível
o grito de socorro
daqueles olhos sôfregos
medonhos e a um só fôlego
como se, ainda vivos,
saltar em mim quisessem
quererá regressar
o peixe ao mar de origem
a lançar-se à nova isca?
ou para um fim mais digno?
serei eu seu salvador?
essa espinha – até hoje –
me atravessa a garganta
Raízes
estar aqui
é minha ausência
noutro lugar
estar por lá
não me fará
sair daqui
*Poemas do livro “Outras Urbanas”, Ventura Editora, 2023.
Salve, Jorge! Parabéns, Jorge! A-Ventura!
Uma poesia extraordinária