
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade nasceu a 31 de outubro de 1902, na cidade de Itabira de Mato Dentro, em Minas Gerais. Considerado um dos principais poetas brasileiros do século XX, Drummond é um dos escritores mais exaltados do país, tendo poemas emblemáticos, como “E agora, José?”, “Tinha uma pedra no meio do caminho” e “Mundo, mundo, vasto mundo…” lidos, interpretados e reconhecidos, tanto pela classe intelectual e estudiosa, quanto pela sociedade em geral.
Carlos Drummond fez parte da Segunda Geração Modernista do país, se tornando o principal nome da “Geração de 30”, junto com Jorge de Lima, Vinicius de Moraes, Murilo Mendes e Cecília Meireles. Seus poemas abordam temas existencialistas, de questionamentos à vida, seus sentimentos mais aflorados, além de grandes críticas sociais, religiosas, filosóficas e amorosas, sempre utilizando traços de ironia, “humor pessimista” e observações cotidianas. Além de poeta, Drummond também é considerado um dos principais cronistas e contistas do país e também foi tradutor de autores como Balzac, Federico Garcia Lorca e Molière.
O nome de Drummond é tão importante para a poesia nacional, que em 3 de junho de 2015, foi sancionada a lei nº 13.131, que oficializou o dia 31 de outubro, data de nascimento do escritor, como o “Dia Nacional da Poesia”.
Carlos Drummond de Andrade faleceu no Rio de Janeiro, no dia 17 de agosto de 1987, 12 dias depois do falecimento de sua filha, a escritora Maria Julieta Drummond de Andrade.
Poemas de Carlos Drummond de Andrade:
Memória
Amar o perdido deixa confundido este coração. Nada pode o olvido contra o sem sentido apelo do Não. As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão Mas as coisas findas muito mais que lindas, essas ficarão.
Procura da Poesia
Não faças versos sobre acontecimentos. Não há criação nem morte perante a poesia. Diante dela, a vida é um sol estático, não aquece nem ilumina. As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam. Não faças poesia com o corpo, esse excelente, completo e...
Instante
Uma semente engravidava a tarde. Era o dia nascendo, em vez da noite. Perdia amor seu hálito covarde, e a vida, corcel rubro, dava um coice, mas tão delicioso, que a ferida no peito transtornado, aceso em festa, acordava, gravura enlouquecida, sobre o tempo sem caule,...
José
E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, você? você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama, protesta? e agora, José? Está sem mulher, está sem discurso, está sem carinho, já não...
No Meio do Caminho
No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha...
Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili, que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto...
Para Sempre
Por que Deus permite que as mães vão-se embora? Mãe não tem limite, é tempo sem hora, luz que não apaga quando sopra o vento e chuva desaba, veludo escondido na pele enrugada, água pura, ar puro, puro pensamento. Morrer acontece com o que é breve e passa sem deixar...
Poema de Sete Faces
Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres. A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos. O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas...
Poema da Purificação
Depois de tantos combates o anjo bom matou o anjo mau e jogou seu corpo no rio. As água ficaram tintas de um sangue que não descorava e os peixes todos morreram. Mas uma luz que ninguém soube dizer de onde tinha vindo apareceu para clarear o mundo, e outro anjo pensou...
Congresso Internacional do Medo
Provisoriamente não cantaremos o amor, que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos. Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços, não cantaremos o ódio, porque este não existe, existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro, o medo grande dos sertões, dos mares,...
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