Antônio Bento de Araújo Lima nasceu na cidade de Araruna, Paraíba, a 5 de outubro de 1902. Poeta, Crítico de Arte, Cronista Musical, Contista, Jornalista e Político, foi uma das maiores expressões do jornalismo e da cultura nacional de sua época. Foi Presidente da seção brasileira da AICA e diretor do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Participou da fundação do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

No início da década de 20, Antônio Bento foi morar em Pernambuco para ingressar na Faculdade de Direito do Recife. Lá conheceu José Lins do Rego e Raul Bopp e com ambos, passou a morar numa república de estudantes, na cidade de Olinda. Três anos mais tarde, transferiu-se para a Faculdade de Direito do Catete, no Rio de Janeiro, onde concluiu seus estudos superiores, diplomando-se em 1925. Neste período, ficou amigo de nomes como Di Cavalcanti, Cândido Portinari e Ismael Nery. Com eles, o poeta participou de vários eventos culturais importantes. Em princípios de 1926, fixou residência em São Paulo, onde, ao lado de Mário Pedrosa, manteve uma coluna de crítica musical no ‘Diário da Noite’. Sua permanência na capital paulista foi curta. Mas, suficiente para conhecer grandes expoentes da literatura nacional, a exemplo de Mário de Andrade, de quem tornou-se amigo, auxiliando-o em suas pesquisas sobre folclore nacional.

Antônio Bento faleceu no ano de 1988, no Rio de Janeiro.


Ponteio sobre Mário de Andrade

Chico Antonio, raro menestrel
Ouvido por Deífilo Gurgel,
Declarou sobre Mário de Andrade,
Proclamando a mais pura verdade:

“Ave Maria! Esse homem era um santo!”

Estava certo o bom repentista,
Julgando assim o mestre paulista.
Foi quem melhor definiu o poeta,
Canonizando-o como um profeta.

Ponteio da Garoa

Somente vim pra São Paulo
Pensando em ganhar dinheiro
Pra me casar com meu bem
Lá no Rio de Janeiro.

Está garoando
Ou chuveirando?

Desço a Avenida São João
Todo envolto na garoa
Só penso no amor distante
E assim vou banzando à toa.

Está garoando
Ou chuveirando?

Que frio trás essa garoa!
Em meio à minha solidão.
Ai! saudades de meu bem
Quebrantam meu coração.

Está garoando
Ou chuveirando?

Há névoa sobre meus olhos
Carregados de tristeza,
Um vão engano me atordoa
No Rio está minha riqueza.

Está garoando
Ou chuveirando?

Por quê vim pra São Paulo?
Cismando em ganhar dinheiro?
Se afinal deixei no Rio,
Meu tesouro verdadeiro!

Está garoando
Ou chuveirando?

Ponteio dos Olhos Verdes

Meu comandante
Não siga adiante!
Cuidado com teu barco,
No qual eu não embarco.

Vai naufragar
Nos escolhos
Dos verdes olhos
Da mais enganosa
E perigosa
Das sereias do mar.

Cautela, capitão!
Desconfie da sedução
Dos malsinados olhos.
Para os marinheiros,
Os mais traiçoeiros
Dos abrolhos.
Eia, capitão
Fuja da perdição!

Toada

A vida, a vida
.    – é –
Luta renhida.

O amor, o amor
.    – é –
Louco fervor.

Paixão, paixão
.    – é –
Rubro vulcão.

A morte, a morte
.    – é –
A maior sorte?

Sofrimento
.   – é –
Vão tormento!

A glória, a glória
.   – é –
Transitória!

A vida é luta renhida,
mal vivida.

Toada Nostálgica

Tive amores infantis
No engenho de meu avô.
Quer saber se fui feliz?
Eu seria, eu era, eu sou.

No engenho de minha avó
Tive algumas namoradas.
Não desprezei uma só.
Todas foram abraçadas.

Tive ainda outros amores
no engenho de meu pai.
Terei tido dissabores?
Moenda que vem e vai.

*Poemas do livro “ANTONIO BENTO – Poesias, Ponteios, Toadas, Cordel”, Léo Christiano Editorial, 1993.