Yves Namur nasceu em Namur (mera coincidência de nomes), na Bélgica, em 13 de julho de 1952. Médico e escritor, é até hoje o membro mais jovem da Academia Real de Língua e Literatura Francesa da Bélgica, a ser eleito em 2001.Extremamente imagético, sua obra é muitas vezes comparada a de Rainer Maria Rilke, sendo considerado um dos principais poetas da atualidade na Europa.

*

Que palavra,

Melhor ainda, que anjo das cinzas,
Da escada ou de eco.

Ou que outro ainda

Conseguiria interromper a imensa paciência
Do fogo?

*

Ocorre-me pensar
Não existir eu realmente,

A não ser no olhar

E
Na voz do outro.

*

Esse mínimo de luz,

Maior
Se dela nos afastamos um pouco.

E
Intocável ainda,

Como essa queimadura pura
Vinda da provação
E do olhar da Apagada.

*

Aquela
Que em certo dia traçou a altura
E uma idêntica profundidade das coisas,

Aquela
De quem com fervor fala a língua verde
E obscuros sussurros da folhagem,

Mesmo essa saberá
Da dúvida das pedras

E
Da extrema beleza
Da palavra “solidão”?


*Tradução de Fernando Eduardo Carita

*Poemas extraídos do livro “Figuras do muito obscuro”, editora Cavalo de Ferro, 2000