Luís Filipe Guimarães da Mota Veiga, mais conhecido pelo pseudônimo David Mestre, nasceu em Loures, Portugal, a 3 de agosto de 1948. Poeta, jornalista e crítico literário, passou a viver em Angola com apenas 1 ano de idade. Foi assessor do presidente angolano José Eduardo dos Santos, além de diretor do Jornal de Angola até 1992. Também desempenhou um importante papel na poesia do país, sendo fundador do grupo “Poesias Hoje” e diretor das páginas literárias “Forma”, do jornal Palavra. Faleceu em 1998, em Almada, Portugal.
NAS BARBAS DO BANDO
E quem
nesta roda
riscou no peito
a ave
inviolável?
Qual de vós
apostou a morte
e perdeu?
Qual de vós
inegáveis patifes
navalhas encantadas
traçou no areal
a mais bela aventura
nas barbas
do bando?
PORTUGAL COLONIAL
Nada te devo
nem o sítio
onde nasci
nem a morte
que depois comi
nem a vida
repartida
p’los cães
nem a notícia
curta
a dizer-te
que morri
nada te devo
Portugal
colonial
cicatriz
doutra pele
apertada
ARTE POÉTICA
Pousa o tempo
sobre os ombros
e (d)escreve
apenas
erosões
dum rasto
de Sol
na pedra lisa
SINAL DE SEDA
Dois negros
timores
secretos
rubis
teus olhos
pedem
as Ganges
por ti
O tigre
contempla
no lago
de prata
o sinal
de seda
em que
sorris
AMÊNDOA DE MOMBAÇA
Por ti
colhi o luar
na cabeça
comi o retrato
na vidraça
feri
o gargalo
na taça
bebi
onde bebe
a caça
por ti
por tua
amêndoa de
Mombaça
*Poemas do livro “Poesia Africana de Língua Portuguesa – Antologia”, Editora Nova Aguilar, 2003.