Hilde “Domin” Löwenstein, nome de casada Hilde Palm, nasceu em  Colônia, Alemanha, a 27 de julho de 1909. Poeta e escritora, foi uma das mais premiadas autoras de seu país a partir da segunda metade do século XX. Filha de pai judeu, precisou viver exiliada por 22 anos, vivendo em Roma, Grã Bretanha, Estados Unidos e República Dominicana. Aderiu poeticamente o pseudônimo “Domin”, em referência à sua estadia em Santo Domingo.

Suas primeiras poesias foram publicadas em revistas em 1957. Também escreveu contos, um romance (montagem) e ensaios literários. Trabalhou também como fotógrafa, tradutora e editora. Hilde Domin falaeceu em Heidelberg, Alemanha, no dia 22 de fevereiro de 2006, morreu, aos 96 anos em consequência de uma queda.


LINGUÍSTICA

Tu deves conversar com a fruteira.

Inventa uma nova língua,
a língua da cerejeira em flor,
palavras da macieira em flor,
palavras brancas e rosas,
que o vento
carrega
em silêncio.

Confia-te à fruteira
quando sobre ti recai a injustiça.
Aprende a silenciar
na língua branca
e rosa.

ARS LONGA

O hálito
numa goela de pássaro
o hálito ar
nos galhos.

A palavra como
o próprio vento
seu hálito sacro
para fora e para dentro.

O hálito sempre encontra
galhos
nuvens
goelas de pássaro.

Sempre encontra uma boca
a palavra
a palavra sacra.

ONIPRESENTES REGRAS DE ETIQUETA

Alguém te cospe na cara
puxa uma nuvem ao teu redor
diz chove.

Uma face molhada de chuva
é socialmente apresentável
até mesmo uma molhada de lágrimas.

Que o aviltado
fique impassível
e tudo lhe será perdoado.

É certo que disso sabia
cada judeu
no Terceiro Reich.

Só os enforcados
ficavam lá pendurados
irritantes ao olhar

e eram espancados
morrentes
para sua própria morte.

SOBRE NÓS

No futuro irão ler sobre nós.

Nunca desejei despertar no futuro
a compaixão do aluno de escola.
Aparecer em seu caderno
desse modo.

Nós, condenados
a saber
e nunca a agir.

Nosso pó
não volta a ser terra.

TUA ÁRVORE VERMELHA

Tua árvore vermelha
entra no inverno.
Teus pássaros
saem voando.
Tanto se sentaram calados nos galhos.
Eles voam
circulam sobre a tua cabeça.
Tornam-se estrangeiros.

“PÁSSARO LAMENTO”

Um pássaro sem pés é o lamento,
nenhum galho, mão, ninho.

Um pássaro que se fere no voo
na estreiteza,
um pássaro que se perde
no aberto,
um pássaro que se afoga
no mar.
Um pássaro
que é um pássaro,
que é uma pedra,
que grita.

Um pássaro mudo,
que ninguém ouve.

*Poemas do livro “Só uma rosa como arrimo”, editora Jabuticaba, 2024.
Tradução de Simone Brantes