Franco Terranova nasceu a 9 de março de 1923, em Nápoles, Itália. Poeta, artista, marchand lendário e piloto da esquadra aérea italiana durante a 2ª Guerra Mundial, radicou-se no Brasil em 1947 e se tornou um do precursores no mercado de arte no país. Foi um dos idealizadores da Petite Galerie, que funcionou entre 1954 e 1988, em Ipanema, no Rio de Janeiro. Como poeta, Terranova também foi prestigiado. Lançou 13 livros e é tido, por Ferreira Gullar, um dos principais nomes da poesia concreta brasileira. Franco Terranova faleceu no dia 30 de dezembro de 2013, no Rio de Janeiro.

*
o homem
olhou o prisioneiro
escapar entre os arbustos
e não apertou o gatilho
tinham-se encarado os dois e tinham usado a linguagem
secreta
dos olhos atento
“deixa-me fugir!”
tinha falado o prisioneiro
“vai!”
tinha respondido o homem
sentiu um alívio em sua alma     e uma voz
do seu passado
gritando
“ei!
aonde vai criança?!”

*
seu rosto era claro
o frio intenso
tinha esquecido seu corpo e não sabia onde
talvez
estivesse escondido lá embaixo
na terra
onde aparecia sua cabeça
informe

uma claridade na noite

*
venha o sonho
semeando a paixão da infância
pés descalços pisando pedras brancas e negras
pelo tempo perdido
cores
sons
perfumes de outrora
auroras
alegria pelo descobrimento do mundo
venha
o sonho
embaralhando emoções da juventude
na pureza dos atos e das idéias
nos embates da vida
o vazio
grávido do primeiro amor
venha o sonho instituindo o sentimento da morte
no homem que dorme
hibernando
sua alma
com o nada absoluto
ausência de deuses perdidos
nos montes
claros
nos bosques sagrados da memória
enfim venha o sonho semeando paixões emoções     o primeiro
e último amor
ao encontro sagrado da alma com sua própria morte

A MORTE DE UM POETA

ou

“pai”
falou a formiguinha
“tenho uma dúvida sobre meu trabalho e minha vida”
“continue” encorajou a formiguinha para o filho
“se eu
viro para a direita para apanhar uma folha e
depois
viro para esquerda para carregá-la até nossos celeiros
isto é um desvio de comportamento ou
uma opção existencial?”
“filho”
responde o pai para a formiguinha
“você quer é levar vantagem em tudo
que é fugir da raia
tem que ficar na zona do agrião      como fala seu tio joão
se você é do signo de peixes não pode de uma hora para outra
querer ser leão
novos signos não criam novas realidades
no máximo
e isto não é nada bom
sua imagem ficará um pouco desfocada
nada mais
vai filho
carregue suas folhas e não pense mais no assunto!”

*
a partir
de minha mentira
a verdade se tornou possível

*
a beleza
escondida em meu sonho
foi meu espelho partido
e
eu
assumo
minha culpa
olhando minha imagem infinita

*Poemas do livro “lúcida lâmina”, Massao Ohno Editor, 1991.