Francisco Otaviano de Almeida Rosa nasceu na cidade do Rio de Janeiro, RJ, em 26 de junho de 1826. Poeta, advogado, jornalista, político e diplomata, é o patrono da cadeira n. 13 da Academia Brasileira de Letras (ABL), por escolha do fundador Visconde de Taunay. Ficou reconhecido entre os principais poetas da fase romântica.

Poeta desde a infância, sua obra poética representa uma espécie de inspiração do homem médio, mas não banal, o que lhe dá, do ponto de vista psicológico, uma comunicabilidade aumentada pela transparência do verso, leve e corredio. Em torno do eixo central de sua personalidade literária se organizam as tendências comuns do tempo, num verso quase sempre harmonioso e bem cuidado. Também traduziu poemas de Horácio, Catulo, Lord Byron, Shakespeare, Shelley, Victor Hugo, e  Goethe.

Francisco Otaviano faleceu no dia 28 de junho de 1889, no Rio de Janeiro.

 

ILUSÕES DA VIDA

Quem passou pela vida em branca nuvem,
E em plácido repouso adormeceu;
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu;
Foi espectro de homem, não foi homem,
Só passou pela vida, não viveu.

PARA QUE VER?

Por que, divino Mestre,
Com teu poder celeste,
Ao homem que cegara,
De novo ver fizeste?

Que lhe mostrava a terra
Que a vista merecesse?
Maldades e perfídias
De sórdido interesse!

Tua doutrina, cego,
Ouvia e meditava.
Sem cogitar no mundo,
Ao céu se remontava.

Um cão, umas crianças
Lhe davam assistência;
O cão – fidelidade,
Crianças – inocência!

De humana piedade
Teu ato foi, Senhor!
Mantê-lo na cegueira
Fôra de um Deus favor!

MORRER… DORMIR…

Morrer… dormir… não mais! Termina a vida
E com ela terminam nossas dores:
Um punhado de terra, algumas flores,
E às vezes uma lágrima fingida!

Sim! minha morte não será sentida;
Não deixo amigos, e nem tive amores!
Ou, se os tive, mostraram-se traidores,
Algozes, vis de uma alma consumida.

Tudo é podre no mundo. Que me importa
Que ele amanhã se esb’roe e que desabe,
Se a natureza para mim é morta!

É tempo já que o meu exílio acabe…
Vem, pois, ó Morte, ao Nada me transporta!
Morrer… dormir… talvez sonhar… quem sabe?

RECORDAÇÕES

Oh! se te amei! Toda a manhã da vida
Gastei-a em sonhos que de ti falavam!
Nas estrelas do céu via o teu rosto,
Ouvia-te nas brisas que passavam,
Oh! se te amei! Do fundo de minh’alma,
Imenso, eterno amor te consagrei…
Era um viver em cisma de futuro!
Mulher! oh! se te amei!

Quando um sorriso os lábios te roçava,
Meu Deus! que entusiasmo que sentia!
Láurea coroa de virente rama,
Inglório bardo, a fronte me cingia;
À estrela d’alva, às nuvens do Ocidente,
Em meiga voz teu nome confiei.
Estrelas e nuvens bem no seio o guardam;
Mulher! oh! se te amei!

Oh! se te amei! As lágrimas vertidas,
Alta noite por ti, atroz tortura
Do desespero d’alma, e além, no tempo,
Uma vida a sumir-se na loucura…
Nem aragem, nem sol, nem céu, nem flores,
Nem a sombra das glórias que sonhei…
Tudo desfez-se com sonhos e quimeras…
Mulher! oh! se te amo!

*Poemas do livro “Antologia de Antologias”, Editora Musa, 1995.