Luis Turiba nasceu em Pernambuco, em 1950. Poeta, jornalista, compositor e agente cultural, foi assessor de comunicação do ministro da cultura Gilberto Gil, durante o governo Lula, entre 2003 e 2008. Criado no Rio de Janeiro, morou, no entanto, por mais de 30 anos em Brasília, onde recebeu o título de Cidadão Brasiliense.  É editor da revista experimental Bric a Brac, desde 1985 e foi vencedor da Bolsa Literária Funarte, em 2008.

Fruto de um caldo político-existencial , Turiba publica livros desde 1977, quando estreou com o livreto de poesia, “Kiprokó”. Atualmente trabalha com alimentação de conteúdo em redes sociais (blogs, face, twitter, etc), faz assessoria de imprensa, escreve artigos e matérias, cria frases e slogans; e publica poemas na web e no www.blogdoturiba.blogspot.com

FICA FORA

turbo tango tenso: peso
choro trama pulso: lixo
panos tiros pedras: cerco
bombas tribos ondas: circo

saco seco soco: medo
reza rima risco: crespo
solo jaca selo: visgo
saque olho brilho: cristo

margem voto traje: cruento
gangue susto fisco: crime
misto credo cruzes: crosta
karma putas fritas: finge

nervo rasgo pele: fora
golpe nuvens santo: porra
grana drama culto: raso
surto stress sombra: morra

POEIRA CÓSMICA

trans silêncios
nada revelo ao meu secreto
à minha sombra
à minha angústia

? quem inventou que existo
sou éter sou et
sou et cetera
fumaça de pressão
na panela de feijão
não do sim – sim do quem sabe
sumiço físico
fiasco nos cascos
zoom de záz
pó de pirlimpimpim na chuva
de purpurinas
poeira cósmica
da energia quântica
silente & sânscrito

ao esvair-se
novo ser viver-se

DESACONTESSÊNCIAS

desaconteci
(mentavelmente)
tudo acontece para
desacontecer em si

anoitece para amanhecer
nascer viver crescer morrer
tecer escrituras em silêncios
semânticas em pura seda

desconstruir óbvios
reconstruir amálgamas
experimentos ordinários
holografias d’almas

ZONA QUE DIZ-COM-CORPO

depois não me venha
lamber os beiços
secos por um deserto
q. implora
uma lambida de língua
nesse mar vermelho
q. inunda o azul

NA PISTA

cortante é tornar-se estranho
de quem já compactuamos
as mais sórdidas intimidades

baile segue
a orquestra titânica
não conhece o stop!
– a vida parou ou foi a eletrola?

a música transmuta-se
acalenta outras
sonoridades no ritmo do Iphone
ouvimos longe o saxofone
sanfona dá saudade

pés pisam a pista
com a força que o corpo empresta
despistar-se, pra quê?
um ovo não se desfrita
a palavra se rende proscrita

A SÉTIMA FACE DO DADO

sinal aberto
sinal fechado
um outro lado do lado
tidimensão em jogo
outras fitas outros fardos
a vida um lance de dardos
todo redondo é quadrado
para que lado caio o dado
além das conformidades

a face oculta da lua
a terceira margem do rio
a viagem o túnel passagem
o silêncio o nada o fio
o parto a morte o cio
o tiro a gilete o abrigo
sombra ausência de luz
o sol vem de madrugada
a luta vã dos contrários
corte pra todos os dados
na sétima face do lado
a vida é pra ser jogada
no lodo no luxo no lixo
mesmo quando o jogo é nada
o dado tem sete lados

*Poemas do livro “DESACONTECIMENTOS”, Editora 7 Letras, 2019.