Paulo Reis nasceu em São José do Ribeirão, Bom Jardim, no Rio de Janeiro, a 6 de julho de 1964. Radicado em Nova Friburgo desde 1985, é poeta e formado em Letras pela Faculdade de Filosofia Santa Dorotéia. Em 2003, sua poesia foi recitada na abertura do desfile cívico-militar em comemoração aos 185 anos de Friburgo e, em 2004, pelo cantor Elymar Santos, durante um showmício.
FANTASIA
Meu pensamento cego
a vadiar procura
a noite escura
deste seu olhar…
Beber veneno
em sua carne impura
morrer de amor
e me purificar.
PASSAGEM
A vida é morte em estágios.
A cada dia, morro um pouco.
O punhal que me fere
crava-me na alma.
A dor que sinto
não se revela
em gritos.
DESORDEM
São dias medonhos
à sombra da morte.
A cada fim de tarde
adição de cadáveres
à contabilidade fúnebre.
O vírus avança com sua morbidez voraz.
Não há vaga nos hospitais
nem nos cemitérios.
Plantio de corpos na lavoura da morte.
POEMA COM GOSTO DE SANGUE
Os fogos
de sacrifício
invadem
entranhas.
É noite
de sem joão.
O céu
fica todo apagado…
E a cidade,
cega,
surda,
muda,
acompanha.
INVASÃO
A porta
o porto
importa
medo e terror.
Terra prometida
possuída sem pudor.
Desterro, enterro
defunto barato
cova rasa
corpo em brasa
fonte de progresso
processos não processados
prepotência
doença sem cura
usura
fura
fere
farta-se
fornica
tudo em nome
da fortuna
antiética
patética.
RUÍDO
Linguagem da guerra
fúria do homem
boca de fogo
dureza do aço
fogo cruzado
fertilidade da morte.
*Poemas do livro “Grito Calado”, Ventura Editora, 2024.