Solveig Margareta von Schoultz nasceu no dia 5  de agosto de 1907, em Porvoo, Finlândia. Poeta, professora e jornalista, foi umas das mais importantes escritoras de línguas nórdicas de sua geração, tendo também publicado histórias infanto-juvenis, além de roteiros para televisão e radionovelas. Foi casada com o músico Erik Bergman, com quem teve duas filhas. Venceu inúmeros prêmios literários, dentre eles o “Svenska Dagbladets”, em 1947, e o da “Academia Sueca-Finlandesa de Literatura”, em 1970. Solveig von Schoultz faleceu no dia 3 de dezembro de 1996, em Helsinque, Finlândia.


SONHO

Na luz repentina da lâmpada
saias ficaram transparentes
ao redor do núcleo escuro do seu corpo.
Rapidamente ela as jogou fora.
Eles se levantaram como pétalas de uma flor de papoula
voando sobre a cama, sinos brancos.
O homem tateou por eles
enterrou a boca na fria submissão
afundou o rosto em seu perfume evanescente.
Mas, ela ficou nua
e esquecida
ao lado da cama.

CORAÇÃO

Demos grão para ela, não muito,
mas para que ela não se cansasse,
ela pegou água,
um dedal para ela se lembrar da mola principal,
não abrimos sua porta ligeiramente
para que o céu então atinja seu olho.

OS PÁSSAROS

Primeiramente Eu ouvi apenas as vozes
suas e minhas
tecendo um ao outro
algumas palavras que nos ficaram para trás.
Mais tarde, Eu ouvi os pássaros
tecendo seu ninho de fios de chuva
na neblina.
Asas abatidas por trás de nós,
bicos lutaram
sobre diamantes.

MAR EM NOVEMBRO

Por volta da casa, quieto debaixo das árvores
senta-se grandes figuras transparentes
eles não barram o caminho
você pode atravessá-los direito
apenas com um leve frio
mas eles estão sempre lá
facilmente se vê no tempo chuvoso
quando o mar é cinza
quando o que foi sobe
em direção à janela.

FOI EMBORA

É tranquilamente possível quando você senta ao sol
para sentar-se na sombra, ver as ondas rolando
apenas como mentiras cintilantes sobre as rochas
somente ver fome nos olhos amarelos da gaivota
de outono na grama seca do sol a seus pés.
É tranquilamente possível quando você senta ao sol
para ter que ir embora, não responde a uma chamada
dos pés em seu quarto mais recôndito a mão cinzenta
fecha a janela.

A LENTE EM CHAMAS

Como na primavera
você pega o sol em uma lente em chamas
assistindo o calor diminuir
e o papel enegrecer,
um pequeno ponto nele
começa a brilhar,
certamente é assim que o desespero
deve queimar um buraco no silêncio

*Poemas do livro “Uma maneira de medir o tempo” (Coleção de poetas finlandeses), 1992.
Tradução de Igor Calazans para o Recanto do Poeta.